Autor: Professor Carlos Delano Rebouças
Pinheiro
A
infância é uma fase da vida que muitas vezes agimos impensadamente, pelo
impulso, e muitas vezes se faz coisas que jamais voltaríamos a fazer na fase
adulta.
Na
minha época de criança não foi diferente. Quantas vezes pulamos cercas de
sítios no mangue da Barra do Ceará em busca de frutas, sem mesmo estar com fome?
Nem sei mais responder, mas fazíamos isso única e exclusivamente, aventurando-se,
ingenuamente, buscando escapar das saudosas espingardas de sal, usadas pelos
proprietários que sabiam das verdadeiras intenções daqueles que procuravam
adentrar nas suas propriedades. De fato,
queriam na verdade dar-nos uma lição, diferentemente das intenções de hoje, de
um mundo que predomina a criminalidade, e que quando se pula uma cerca, o
objetivo muitas vezes é outro.
Esse
flash back da minha vida e da minha infância fez-me lembrar de uma conversa que
tive com um amigo de infância, hoje militar do exército, que muitas vezes
participou de tantas outras travessuras. Contou-me do sofrimento de tantos
nordestinos no interior do estado do Ceará, que não tem mais tantas cercas para
pular, pois não tem mais tantos frutos, nem caça e nem aventura.
Gente
que mora às margens de grandes açudes morrendo de sede, por não ter água em
seus potes, cisternas e torneiras, esperando a bênção de Deus com chuvas,
somente, para que se tenha o mínimo de alegria e paz, e sem poder saltar os
seus limites e saciar a sua sede. Olha
que pouco que ainda existe, é defendido agora com armas de fogo pelos
donatários, impiedosamente. Cada um defende como pode o que é seu, num país
onde a justiça é determinada pelos mais fortes.
Triste
realidade esta nossa, nordestina, mas o que se pode fazer? Animemo-nos com as
chuvas que caem no estado, pelo menos isso, pois, mesmo sendo muito abaixo do
esperado, ainda servem para animar não só o sertanejo que sequer tem água para
escorrer de seus olhos diante de tantas dificuldades, como também, todos nós da
capital, que um dia pudemos pular tantas cercas.
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