Autor:
Carlos Delano Rebouças
Heitor se acordou. São dez da manhã,
de olhos inchados, calça seus chinelões e vai em direção ao banheiro. Longo
banho. Não importa se a água está escassa no planeta. De cara para o jato de
água quente, analisa se vai ou não trabalhar.
Ora, pensando em voz alta, diz: “Por
que devo ir, se a empresa é de meu pai”?
Do outro lado da cidade, mora Zequinha,
que às dez da manhã já espera o horário do almoço, trabalhando, incessantemente.
Sua labuta já iniciara às quatro e meia da manhã, no primeiro dos dois ônibus
que pega para atravessar a cidade e chegar ao canteiro de obras, onde trabalha
como servente.
Trabalho duro, inicialmente sustentado
com um simples e tradicional “café preto” e um pedaço de pão, dormido, com
manteiga, guardado pela mãe, que o acompanha com o olhar, sempre, todos os
dias, na sua saída de casa até a chegada à parada do ônibus, torcendo que algum
mal não lhe aconteça.
Já Heitor, decidido, não vai
trabalhar. Depois de um verdadeiro banquete no seu desjejum, prefere caminhar
no calçadão, olhar para o mar, e gozar a vida, sem tantas preocupações, a ir ao
trabalho. Por outro lado, seu pai, a sua espera, no escritório, desde as oito
da manhã, comenta com seus botões: “Pena que Heitor pensa que o que construí e
continuo a construir vai se perpetuar pela vida inteira, sem que haja uma
continuidade. É o meu único filho e só posso contar com sua ajuda”.
Aí estão dois mundos bem diferentes e
dois cidadãos brasileiros muito diferentes em suas atitudes.
Enquanto Zequinha, luta pela sobrevivência e
para garantir o sustento de sua família, pois, mesmo solteiro, sua ajuda é
fundamental no orçamento familiar, e ainda por outro lado, seus pais não deixam
de alimentar o sonho de ver o seu único filho, formado engenheiro civil, Heitor
somente ostenta, ignora um futuro incerto, alertado pela sapiência de seu pai.
Quantos jovens brasileiros apresentam
perfis de Heitor e Zequinha?
Parabéns aos “Zequinhas” do mundo!
Acordem “Heitores” e permitam que haja
a verdadeira transformação em suas vidas!
Quem dera que existissem mais
“Zequinhas” com seus pais tão envolvidos na educação dos filhos, no mundo, e
muito mais pessoas que com a postura do pai de Heitor, porém, com mais atitude
e menos lamentações, não acham?
Pobre Heitor, somente mais uma vítima
de um sistema aniquilador, que só nos faz enxergar o consumismo e todos os
pormenores que o caracteriza, como algo mais importante do mundo moderno, que
influencia na educação e formação de nossa juventude.
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