Autor: Carlos Delano
Rebouças
Andar de ônibus urbano
nas grandes cidades é muitas vezes tarefa difícil, imaginem, para que tem
grandes dificuldades de locomoção?
Eugênio certamente
defende essa tese. Homem de meia idade e com sobrepeso, todos os dias enfrenta
uma verdadeira maratona com destino ao seu trabalho do outro lado da cidade,
bem distante de sua casa na periferia de Fortaleza.
Certa vez, como faz
diariamente e de segunda a segunda, pegou seu ônibus por volta das seis da
manhã. Até que não tem tantas dificuldades, pois a parada é em frente a sua
casa. Quando adentrou o coletivo, de cara enfrentou dificuldade de dar os
primeiro passos nos degraus ocupados pelos passageiros. Sentiu-se uma sardinha
dentro de uma lata. Até que chegasse ao outro obstáculo, que seria a catraca,
foi outra batalha grande. Imagine-se um gordo de 137 quilos passando no
corredor de um ônibus lotado, aliás, superlotado. Tarefa difícil, não é? Mas ele
consegue, já que esta é sua única alternativa de transporte.
Com toda a dificuldade para
caminhar dentro do coletivo, encontra um assento disponível para obesos. Porém,
ocupado por uma jovem estudante, que não hesita em cedê-lo. Agradecido e já
acomodado, Eugênio diz: “obrigado por me ceder este lugar, muitas vezes vou em
pé, por ninguém ter a atitude cidadã que teve”.Ainda como forma de
agradecimento e cordialidade, pede para segurar a mochila da garota e de alguns
outros em sua volta.
Não demorou muito para
Eugênio perceber que a pessoa que estava ao seu lado parecia se incomodar com a
sua presença. Sentia-se sufocado por aquele corpanzil, que a cada curva o
lançava às dezenas de corpos em pé de um corredor lotado. Sem eles, estaria certamente
jogado ao assoalho do ônibus.
Sem demora e ainda demonstrando
educação, embora muito irritado, fala o homem: “Moço, o assento é para dois
passageiros e o senhor está querendo ocupar o meu espaço”. Eugênio, prevendo
sua atitude, já que não se trataria de uma novidade ao longo de sua longa
jornada de passageiro de transporte coletivo, já enfrentar situações
semelhantes, disse: Senhor, mil desculpas, estou fazendo o máximo para não lhe
incomodar, mas o simples fato de ser gordo já é um incômodo, não somente para o
senhor, que vê a cada curva feita o seu espaço perdido, nem para os demais
passageiros que dividem diariamente esse espaço comigo e que muitos também
devem se sentir importunados, mas muito mais para mim, que tenho que ver
olhares discriminatórios e preconceituosos, e ouvir palavras que machucam bem
mais. Ainda bem que as suas foram diferentes e machucaram bem menos.
Enquanto respondia ao
vizinho de assento, diversos passageiros também se apresentavam como receptores
de uma mensagem que lhes tocou o coração. Sem muitas palavras, teve o apoio de
sua grande maioria. Sem muitos adjetivos, teve sua predicação. Mas foi somente
isso que confortou o Senhor Eugênio naquele momento de aflição?
Não. Aquele senhor que
reclamara olhou em seus olhos e de forma arrependida disse: Fique tranquilo,
senhor, aceite as minhas sinceras desculpas. Minha intenção estava distante de
desrespeitá-lo.
Imediatamente o homem se
levantou, cedeu o seu lugar ao Senhor Eugênio para que ocupasse os dois
assentos, diante de aplausos e gritos de “é isso aí, parabéns”.
Assim nasceu uma grande
amizade entre Eugênio e Lousada, aquele senhor que soube lidar com as dificuldades de
alguém, como muitos que estão ao nosso lado.
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