GILSINHO E SUA CASINHA DA ÁRVORE
Autor: Carlos Delano Rebouças
Gilsinho é um menino levado, e como
qualquer garoto de sua idade, gosta muito de brincar. Quando chegam os finais
de semana ou suas férias escolares, logo diz aos seus pais: Vamos para o sítio
do vovô... Quero brincar na minha casinha da árvore!
A sua casinha foi construída em
madeira, no alto de uma antiga mangueira, que rende muitos frutos, na época de
produção, além de uma incomparável sombra, muito atraente para um gostoso
descanso depois de um almoço. Há quem diga que sua sombra extrai toda a energia
de quem a aproveita, pois debaixo de uma mangueira nada cresce, nada evolui,
permanecendo pequeno, nanico, à sombra de sua grandiosidade.
Mas Gilsinho não quer saber disso;
ele só quer brincar, brincar, brincar...
Quando chega ao sítio do avô, logo
quer subir na árvore e brincar na sua casinha, pequenina como tantas casas no
Brasil, que milhares de famílias usam de fato como moradia, acomodando várias
pessoas em minúsculos espaços, sem o conforto que Gilsinho tem, com apenas nove
anos, na sua casinha de brincadeiras.
Quando está sozinho, na maioria das
vezes, já que seus primos mais velhos não querem mais brincar e nem cabem mais
na sua casinha da árvore, preferindo se divertir de outras formas mais
modernas, impostas pelo mundo, Gilsinho brinca com seus brinquedinhos, conversa
com seu imaginário, e esquece que existe um mundo lá em baixo, aliás, lá fora.
Aproveita o pequeno espaço que tem e espalha tudo, numa absoluta relação com a
natureza, fazendo sua imaginação aflorar seus sentimentos, enquanto seus pais e
parentes se divertem num churrasco, como sempre, com muita bebida e conversa
jogada fora. Acreditam que lá, Gilsinho mesmo sozinho, parece está seguro e
feliz.
A casa de Gilsinho é de madeira
selecionada, com porta e telhado, aconchegante, mas sem fechadura, além de colorida
e preparada com uma pintura especial, que previne a ação de cupins. Aliás, toda
a mangueira é protegida contra esses parasitas. Ninguém quer perder uma árvore
tão imponente e importante para Gilsinho. Toda a sua família entende que aquela casinha
precisa ser protegida, como o mundo imaginário de Gilsinho, e que seus sonhos
não podem ser interrompidos, como de tantas outras crianças da sua idade
espalhadas pelo mundo real.
Quem dera que todos nós tivéssemos
um lar protegido integralmente, não somente contra os cupins, mas,
principalmente, contra os males da sociedade?
Diferentemente da casa de
Gilsinho, que as ameaças são parasitas da madeira, as nossas casas não são mais
tão protegidas, apesar de cadeados e fechaduras que em nada representam
segurança. Nossas casas ficam sujeitas aos mais diferentes riscos e parasitas
sociais. Hoje estamos trancafiados, inseguros, correndo riscos, nas mãos dos
“cupins” da sociedade, que tentam levar o que construímos, adquirimos com tanta
dificuldade, e quando não levam o que temos de mais precioso, que é a nossa
vida.
Felizardo é Gilsinho, que tem uma
casinha numa árvore, mesmo que seja nos finais de semana ou nas suas férias. Que pode na sua infância viver o seu mundo de
fantasias, bem diferente da realidade nas metrópoles, grandes ou pequenas, não
importa, e até mesmo, infelizmente, da zona rural, pois a violência e as
desigualdades, não mais escolhem lugar, idade ou condições sociais e
econômicas. Apenas agem sem piedade, destruindo vidas e sonhos.
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