segunda-feira, 5 de maio de 2014

DOIS MUNDOS E DOIS BRASILEIROS


 
Heitor se acordou. São dez da manhã, de olhos inchados, calça seus chinelões e vai em direção ao banheiro. Longo banho. Não importa se a água está escassa no planeta. De cara para o jato de água quente, analisa se vai ou não trabalhar.
Ora, pensando em voz alta, diz: “Por que devo ir, se a empresa é de meu pai”?
Do outro lado da cidade, mora Zequinha, que às dez da manhã já espera o horário do almoço, trabalhando, incessantemente. Sua labuta já iniciara às quatro e meia da manhã, no primeiro dos dois ônibus que pega para atravessar a cidade e chegar ao canteiro de obras, onde trabalha como servente.
Trabalho duro, inicialmente sustentado com um simples e tradicional “café preto” e um pedaço de pão, dormido, com manteiga, guardado pela mãe, que o acompanha com o olhar, sempre, todos os dias, na sua saída de casa até a chegada à parada do ônibus, torcendo que algum mal não lhe aconteça.
Já Heitor, decidido, não vai trabalhar. Depois de um verdadeiro banquete no seu desjejum, prefere caminhar no calçadão, olhar para o mar, e gozar a vida, sem tantas preocupações, a ir ao trabalho. Por outro lado, seu pai, a sua espera, no escritório, desde as oito da manhã, comenta com seus botões: “Pena que Heitor pensa que o que construí e continuo a construir vai se perpetuar pela vida inteira, sem que haja uma continuidade. É o meu único filho e só posso contar com sua ajuda”.
Aí estão dois mundos bem diferentes e dois cidadãos brasileiros muito diferentes em suas atitudes.
 Enquanto Zequinha, luta pela sobrevivência e para garantir o sustento de sua família, pois, mesmo solteiro, sua ajuda é fundamental no orçamento familiar, e ainda por outro lado, seus pais não deixam de alimentar o sonho de ver o seu único filho, formado engenheiro civil, Heitor somente ostenta, ignora um futuro incerto, alertado pela sapiência de seu pai.
Quantos jovens brasileiros apresentam perfis de Heitor e Zequinha?
Parabéns aos “Zequinhas” do mundo!
Acordem “Heitores” e permitam que haja a verdadeira transformação em suas vidas!
Quem dera que existissem mais “Zequinhas” com seus pais tão envolvidos na educação dos filhos, no mundo, e muito mais pessoas que com a postura do pai de Heitor, porém, com mais atitude e menos lamentações, não acham?
Pobre Heitor, somente mais uma vítima de um sistema aniquilador, que só nos faz enxergar o consumismo e todos os pormenores que o caracteriza, como algo mais importante do mundo moderno, que influencia na educação e formação de nossa juventude.

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