Heitor
se acordou. São dez da manhã, de olhos inchados, calça seus chinelões e vai em
direção ao banheiro. Longo banho. Não importa se a água está escassa no
planeta. De cara para o jato de água quente, analisa se vai ou não trabalhar.
Ora,
pensando em voz alta, diz: “Por que devo ir, se a empresa é de meu pai”?
Do
outro lado da cidade, mora Zequinha, que às dez da manhã já espera o horário do
almoço, trabalhando, incessantemente. Sua labuta já iniciara às quatro e meia
da manhã, no primeiro dos dois ônibus que pega para atravessar a cidade e
chegar ao canteiro de obras, onde trabalha como servente.
Trabalho
duro, inicialmente sustentado com um simples e tradicional “café preto” e um
pedaço de pão, dormido, com manteiga, guardado pela mãe, que o acompanha com o
olhar, sempre, todos os dias, na sua saída de casa até a chegada à parada do
ônibus, torcendo que algum mal não lhe aconteça.
Já
Heitor, decidido, não vai trabalhar. Depois de um verdadeiro banquete no seu
desjejum, prefere caminhar no calçadão, olhar para o mar, e gozar a vida, sem
tantas preocupações, a ir ao trabalho. Por outro lado, seu pai, a sua espera, no
escritório, desde as oito da manhã, comenta com seus botões: “Pena que Heitor pensa
que o que construí e continuo a construir vai se perpetuar pela vida inteira,
sem que haja uma continuidade. É o meu único filho e só posso contar com sua
ajuda”.
Aí
estão dois mundos bem diferentes e dois cidadãos brasileiros muito diferentes
em suas atitudes.
Enquanto Zequinha, luta pela sobrevivência e
para garantir o sustento de sua família, pois, mesmo solteiro, sua ajuda é
fundamental no orçamento familiar, e ainda por outro lado, seus pais não deixam
de alimentar o sonho de ver o seu único filho, formado engenheiro civil, Heitor
somente ostenta, ignora um futuro incerto, alertado pela sapiência de seu pai.
Quantos
jovens brasileiros apresentam perfis de Heitor e Zequinha?
Parabéns
aos “Zequinhas” do mundo!
Acordem
“Heitores” e permitam que haja a verdadeira transformação em suas vidas!
Quem
dera que existissem mais “Zequinhas” com seus pais tão envolvidos na educação
dos filhos, no mundo, e muito mais pessoas que com a postura do pai de Heitor,
porém, com mais atitude e menos lamentações, não acham?
Pobre
Heitor, somente mais uma vítima de um sistema aniquilador, que só nos faz
enxergar o consumismo e todos os pormenores que o caracteriza, como algo mais
importante do mundo moderno, que influencia na educação e formação de nossa
juventude.
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