por
Carlos Delano Rebouças
Uma
vez imaginei que a vida seria como a escritura de seu texto numa folha de papel
em branco, ansioso para ser lido e desejoso para ter sua história contada nas
entrelinhas que ainda sequer existem. Seria uma incontrolável vontade de se
materializar para um mundo que o esperaria para uma leitura.
Quando
abrimos os olhos ao mundo, o novo nos é apresentado abruptamente, sem mesmo
reunirmos condições para perguntar onde estamos ou aonde chegamos. Trata-se de
uma nova vida que se apresenta ao mundo, ou seja, uma nova história a ser
contada, partindo de páginas em branco, esperando para ter suas primeiras
letras escritas.
Alguns
calouros desse novo mundo já nascem pisando nas pautas de sua folha de papel,
oferecendo-lhes a base necessária para se projetar os primeiros passos da vida;
outros, embora sem entender, inevitavelmente tropeçam na existência dessa base
necessária, como sinal prematuro das dificuldades que porventura irão enfrentar
na sua caminhada.
De
nada adianta possuir o papel em branco, comum a todos que se apresentam para a
vida. Melhor ainda seria contar com as pautas, um lápis e uma borracha. Somente
assim poderia ensaiar as minhas primeiras letras, palavras e frases, e, sem
demora, chegar aos meus primeiros e curtos períodos. Certamente, seriam passos
importantes de uma vida que se inicia.
Pena
que nem sempre é assim, ou seja, nem sempre contamos com as pautas; o lápis
pode ou nos faltar, ou se apresentar sem uma ponta afiada para a escrita da
minha história. Quanto ao erro, indiscutivelmente passivo a todos, independente
das condições do papel, contudo, retificá-lo, nem sempre contamos com a
borracha em nossas escritas. São marcas que ficam e pareçam inapagáveis, embora
nem sempre uma borracha resolva.
E
sem permitir que nada atrapalhe a escritura do texto de minha vida; louco para
ver as páginas em branco escritas nas mais diferentes cores, ilustradas com
desenhos e figuras que reforçam uma história de felicidade; continuo em passos
largos a escrever a minha vida, pois sou ciente das minhas condições iniciais –
aquelas cujo papel sequer contava com pautas, muito menos com lápis e borracha
para me auxiliar – e confio que minha história deixará marcas importantes para
quem ler o meu texto.
Espera-se,
portanto, que a vida seja sempre longa, na crença que a longevidade seja sinal
de sucesso e felicidade, sem duvidar em momento algum que essa tão desejada
longevidade tenha mesmo esse significado. Entretanto, caso essa história de
vida não seja escrita com muita verdade nas suas entrelinhas, certamente não
terá o valor daquelas - curtinhas e gostosas de ler -, principalmente, se em
suas páginas existirem espaços em branco de um papel que foi criado não só para
construir uma história, mas também para deixar um legado a todos os seus
leitores.
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