por Carlos Delano Rebouças
Embora
exista uma resistência à educação – de forma mais ampla, quase involuntária,
bem mais inconsciente e fruto de um descrédito que damos como brasileiros natos
–, é inegável que em determinados momentos temos um efêmero momento de lucidez
e aceitamos a ideia de que ela é de extrema importância para as nossas vidas e
para o futuro de qualquer nação.
Essa
aceitação abrange a compreensão de que o domínio da nossa língua materna é
fator de extrema importância para o estabelecimento das mais diversas
interações sociais, inclusive, a profissional. Contudo, trata-se de uma tese
que nem sempre é defendida, pelo simples fato de desconhecerem a sua real
importância em detrimento de outros interesses que parecem bem mais, que
envolvem a valorização de outros saberes, ou mesmo a total desvalorização do
conhecimento em prol de alguma atividade mais rentável financeiramente.
Certa
ocasião, em um evento escolar no qual envolvia professores e alunos, estes
foram indagados sobre a formação que pensavam almejar por meio de um curso
superior que esperavam cursar nos anos que se aproximavam. A grande maioria
respondeu que desejava estudar direito, medicina e engenharias diversas, contudo,
somente um deles disse que desejava cursar Letras e ser um professor de
português. Todos os outros, quando deram suas respostas sobre quais seriam seus
cursos, foram enfáticos e econômicos com as palavras, sem justificativa
nenhuma, diferentemente do jovem estudante que sonhava em ser professor de
português, que, sem ser solicitado, disse “quero ser Professor de português
porque eu gosto da nossa língua”.
Na
verdade, raramente se ver alunos de grandes escolas particulares de qualquer
parte do país assumirem ter a vontade de ser professor, nem mesmo aqueles que
são filhos de professores e estudam nelas, graças a uma bolsa de estudos.
O
caso desse aluno nos serve para mostrar que ainda se escolhe uma profissão pelo
sentimento e identificação, ao contrário do se faz, quando se leva em conta o
retorno financeiro e segurança econômica. Todavia, nem sempre a escolha de uma profissão,
mediante uma formação superior, tão “cobiçada” no mercado, é certeza de que o
sucesso será garantido.
Muitos executivos, gestores e profissionais
liberais, até mesmo de renome no mercado, reúnem inúmeros conhecimentos peculiares
às suas formações, porém, inevitavelmente, esbarram na falta de conhecimento da
nossa língua portuguesa. Acreditam que seja irrelevante em relação à formação,
aos conhecimentos e à experiência que possuem. Puro engano!
Passamos
da era da “aldeia global”, nascida no início dos anos 1990, com o surgimento da
internet, e hoje estamos em uma nova era – da “sociedade em rede” – que nos obriga
a estabelecer as mais diversas relações sociais pelos mais modernos recursos
cibernéticos, e nele e por ele, atuar profissionalmente com a obrigação de acompanhar
as rápidas evoluções que envolvem também os recursos de comunicação.
Envolto
a esses recursos de comunicação, todo e qualquer profissional,
independentemente da área e segmento que atue, precisa estabelecer contatos e
relações, desenvolver suas atividades, vender sua imagem pelos mais diferentes
e modernos meios de comunicação, e, para que isso se confirme, o conhecimento
de nossa língua portuguesa se apresenta como extremamente importante e
necessário. É nessa hora que precisa se valorizado, mesmo a contragosto.
Hoje
a comunicação precisa ser mais objetiva e por meio de textos enxutos, sobretudo
acessíveis e compreensíveis. Usa-se, ao contrário de décadas passadas, em que
mensagens eram transmitidas ou pessoalmente, ou por telefone ou de forma
escrita, recursos como e-mails, torpedos e mensagens instantâneas (áudio, vídeo
e escrita), para se driblar determinadas adversidades (distância entre os
envolvidos, custos, tempo...). Contudo, se esses recursos de comunicação não
forem utilizados da forma esperada – com uma linguagem que possa facilitar a
compreensão da mensagem – de nada valerá. Por isso é que o conhecimento e a
valorização da língua portuguesa se fazem importantes.
Cabe,
então, que se reflita sobre essa necessidade, principalmente aqueles que ocupam
posições de destaque na sociedade, ora como profissionais liberais, ora como
executivos e gestores, entendendo que a aceitação dessa condição é fator incontestável
para o sucesso profissional e para o crescimento de qualquer instituição.
Pensando assim, passa-se a estender esse pensamento para os demais
profissionais e colaboradores com quem se divide uma rotina diária de trabalho,
permitindo a todos, sem exceção, a valorização da nossa língua portuguesa como
recurso de sucesso profissional.
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