por Carlos Delano
Rebouças
Há quem diga que um
dos mais dignos sentimentos que um homem pode possuir é a gratidão. É ele que
nos diferencia na sociedade, perante a quem reconhece o verdadeiro valor de ser
grato por algo que lhe foi feito, contudo, parece que cada vez mais é
desmerecido entre os homens que já não conseguem definir valores humanos.
Quando pequeninos,
nossos pais nos ensinam a agradecer pelo que nos é feito. Isso acontece quando
nos presenteiam ou nos agradam de alguma forma. Trata-se de uma maneira de nos
educarmos para a vida, aprendendo a reconhecer uma gentileza feita, um favor
concedido, na certeza de que ninguém não necessariamente é forçado a isso,
embora acredite que temos a obrigação de servir.
Apesar de sermos
orientados dessa forma quando crianças, muitos pais, infelizmente, não desenvolverem
essa prática, levando muitas crianças a deixarem de dizer o famoso “muito
obrigado” no transcorrer da vida. Às vezes, aqueles que na infância seguiam
rigorosamente as orientações dos pais, deixando bastante claro que nem sempre é
bem assimilado e se torna uma regra, quando falta uma compreensão sobre a sua
existência e necessidade. Em outros casos, até que a famosa frase é dita,
entretanto, puramente mecanizada, como se fosse natural, parte do discurso, sem
mesmo existir a intenção de agradecer.
Entre agradecer e ser
grato existe uma diferença enorme, que leva a diversas interpretações do homem
e de suas características. Ser grato é uma questão de caráter, que envolve
determinados valores ausentes em muitos que sequer conseguem agradecer, e com o
fazem, não parece uma verdade absoluta. É o agradecer por agradecer e nada
mais.
Ser grato é muito
mais que ser repetitivo no reconhecimento do que lhe foi feito e da pessoa que
esteve à frente das ações. Ser grato é ter a certeza de que tudo que lhe foi
feito fez a diferença na sua vida e que jamais pode ser reduzido a pouco, muito
menos a nada. Ou seja, é nunca esquecer a importância que teve em um dado
momento de sua vida, em que o seu contexto permitiu defini-lo como difícil e
delicado, mas, depois de superado, não pode ser esquecido.
Mas, esquecer o que é
feito e quem o fez parece uma prática comum entre os homens. Logo, numa
oportuna situação, daquelas que desagradam na maioria dos casos, aos olhos do
imponderado, o nome de quem um dia fez algo de grande importância de imediato é
adjetivado negativamente. São novos conceitos apresentados sem serem mensurados
na balança da vida, a qual apresenta, em seus lados opostos, os prós e os
contras de qualquer um de nós, para que possamos avaliar, justamente, as
pessoas e suas atitudes.
Avaliar é comum ao
homem. Adoramos nos definir, quase sempre positivamente, ao contrário das vezes
em que nos referimos a alguém. Contudo, entre definições justas ou não, embora
sejam prejudiciais, já que contribuem para construir uma imagem nem sempre
verdadeira de alguém, pior ainda é esquecer o que foi feito por você, numa
incontestável atitude de ingratidão, como se nada tivesse representado na nossa
vida. É a ingratidão traindo o homem com a insensatez cega e de olhos bem
abertos.
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