domingo, 5 de março de 2017

GALOS, NOITE E QUINTAIS SOB UMA ANÁLISE

A canção de autoria de Belchior – Galos, Noites e Quintais – que também fez muito sucesso com Jair Rodrigues, serve-nos para uma análise interpretativa e sintática profunda, diante de tanta riqueza de recursos linguísticos, figuras de linguagem e uma construção sintática incomparável. Vejamos:

“Quando eu não tinha o olhar lacrimoso
Que hoje eu trago e tenho
Quando adoçava o meu pranto e o meu sono
No bagaço da cana do engenho
Quando eu ganhava este mundo de meu Deus
Fazendo eu mesmo o meu caminho
Por entre as fileiras de milho verde que ondeia
Com saudade do verde marinho
E eu era alegre como um rio
Um bicho, um bando de pardais
Como o galo (quando havia galos, noites e quintais)
Mas veio o tempo negro
E a força fez comigo o mal que a força sempre faz
Não sou feliz
Mas não sou mudo
Hoje eu canto muito mais”.

Percebemos que o autor usa de recursos linguísticos (verbos e advérbios) para mostrar que passou por uma transformação de pensamento e ideologia, deixando claro o seu saudosismo de uma época áurea vivida, bem como um amadurecimento conquistado.
Mostra a liberdade que tinha de conhecer o mundo, como se fosse uma dádiva, principalmente quando usa a expressão “ganhava este mundo”, valorizando a natureza e as riquezas ofertadas por Deus.
Usa de figuras de linguagem para enfatizar e embelezar o seu poema, com termos “emprestados” pela nossa rica língua portugueses para dar sentido e beleza sonora. O verbo “ondear” por meio da catacrese enfatiza o movimento do milharal como se fossem ondulações.
Percebem-se, também, comparações  diversas para mostrar que a natureza precisa ser exaltada, e, comparar-se a ela, é mais do que conveniente, é justo, pois somos seu predador e de nós mesmos.

Porém, diante de seu saudosismo e de sua aparente felicidade existia um homem triste e melancólico que se evidencia logo quando surge a oração coordenada adversativa, iniciada pela conjunção “mas”. Diz que “o tempo negro veio e força lhe fez o mal”. Reconhece o Maniqueísmo existente no mundo. Contudo, embora adversamente, mostra otimismo e firmeza quando diz “mas não sou mundo e hoje canta muito mais”, justificando a sua infelicidade assumida.  

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