Por Carlos Delano Rebouças
Ouvi
de minha esposa que a parte de corpo da gente que envelhece primeiro, que logo
apresentam sinais dos tempos é as mãos. Logo elas, que tanto participam de
nossas vidas.
Essa
foi uma nova oportunidade de conhecer histórias sobre a anatomia humana. Nova
porque cresci ouvindo das pessoas do bairro onde nasci e me criei, que as
orelhas do senhor Castoré, avô de um de nossos amigos, eram grandes, porque é
junto com o nariz as partes do nosso corpo que só estacionam seu crescimento
quando morremos. Pobre do senhor Castoré, morreu bem velhinho e com orelhas
enormes. Meu pai segue no mesmo caminho, com a graça de Deus.
Mas
vamos esquecer as orelhas e o nariz, e retornemos ás nossas mãos. Pobre delas, que
tanto têm a nos mostrar e provar que sem elas, teríamos uma vida bem mais
complicada.
São
as mãos que nos seguram no colo, pequeninos, nos primeiros momentos de nossas
vidas. Nascemos pelas mãos de parteiras, médicos e enfermeiras, e logo somos
entregues nas mãos de nossas mães. Também pelas mãos de Deus, sob a fé que
preferimos seguir, damos passos numa caminhada ao longo de nossas vidas, que
muitas vezes, pelas mãos dos homens e de seus interesses, esse caminho pode ser
limitado. Representa a nossa história contada numa realidade, na contramão dos
interesses divinos.
Na
nossa iniciação educacional, e até mesmo antes de conhecer um ambiente escolar,
em casa mesmo, descobrimos o mundo pelas mãos, a mesma, que permite conhecer
pelo tato, apresentando-se como um instrumento que “assassina” uma curiosidade
em descobrir um novo. Em seguida, já numa escola, conhecemos o lápis, as cores,
e todos os recursos para o desenvolvimento educacional. Parecemos artistas
plásticos mirins ou escritores de um dialeto só, que não tardam novas descobertas,
caso se confirme uma perfeita orientação.
Contudo,
apesar de todos os recursos da ciência e da medicina, com produtos que possam
retardar ou combater o aparecimento dos sinais dos tempos, inevitavelmente
acontecem. As rugas, dentre outros sinais não demoram a chegar com a idade. Às
vezes, nem percebidas, até que alguém chame a sua atenção.
Foi
assim, que um dia, conversando com a Dona Carminha, minha querida avó, fazendo o
carinho de sempre, tocando em suas mãos, percebi e refleti: “Como a Vovó já
está velhinha, de pela transformada pelo tempo, sensível, delicada, e que a faz
diferente de década atrás”.
Faz
diferente sim. Faz para mim, seu neto e um eterno admirador da terceira idade e
de tudo que os idosos podem nos ensinar, uma diferença tremenda, a partir da
certeza que tenho que suas mãos enrugadas, transformadas pelo tempo são sinais
de muita vivência. Que por suas mãos, por exemplo, vieram a mundo 12 filhos, e
destes, inúmeros netos e bisnetos, que amam, respeitam e admiram uma senhorinha
de 92 anos, linda e maravilhosa, que Deus mantém viva para a nossa alegria.
Quem
dera que muitos de nós, jovens e adultos de hoje, diante da situação que vive o
mundo, possamos viver o suficiente para enrugar as mãos. Nosso rosto,
certamente que sim, pois de tanto chorarmos, de tanto derramarmos lágrimas de
sofrimento, não precisa mais chegar à terceira idade para apresentar sinais dos
tempos.
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