terça-feira, 30 de junho de 2015

LIVRO QUE ASSUSTA


Por Carlos Delano Rebouças

A um jovem semianalfabeto, já com seus 17 anos, e ainda, parado, após abandono espontâneo na 2ª série do ensino fundamental, foi presenteado um livro. Se o presente falasse, diria: Muito prazer, meu nome é livro.

Perplexo, olhava para o material editado em busca de imagens, logo na primeira página. Aceitável, pois geralmente é o que mais atrai a primeira vista.

Mas o jovem queria mais. Demonstrava toda a sua angústia a cada folha que passava, sem mesmo ler uma frase. Coitado, quantas dificuldades demonstrar ter em decodificar! Prefere fixar sua atenção às quase inexistentes imagens, que ficam em segundo plano numa excelente obra da literatura brasileira.

O jovem parece perdido, como se buscasse entender aquilo que foi lhe ofertado. Pergunta quem escreveu; busca detalhes sobre a obra, sob a visão de quem o presenteou; tenta repassar que não é tão desconhecedor quando se percebe; porém, não consegue evitar que se entenda que um livro é algo que está anos luz distante de sua realidade.

Será que foi covardia dar um presente destes a um jovem tão bem parecido, comunicativo, habilidoso com equipamentos eletrônicos, e que sonha em um dia vencer na vida? Prefiro acreditar que se tratou de um belo incentivo para que este jovem melhore seu intelecto e volte a estudar.

Covardia é deixar de incentivar a leitura e desvalorizar a educação como um todo. Triste é ver tantos brasileiros, em todas as faixas etárias, sobretudo, nas fases iniciais da vida, sendo mal orientados quanto à educação. Estudantes que aprendem desde cedo que a educação só é importante pela necessidade de trilhar melhores caminhos na vida profissional, e não, como uma necessidade de edificação humana, em primeiro lugar.

O presente assustou o jovem. Jamais acreditava receber um livro de presente, e veja que nem era seu aniversário. Porém, quem o presenteou não poupou esforços para incentivá-lo à leitura, tanto que a concluiu, na íntegra, e acreditem, já pensa até em ler uma segunda obra.


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