Por
Carlos Delano Rebouças
Hoje,
veio-me à lembrança recordações de minha infância, de minha adolescência e de
tantas coisas vividas em família, entre amigos, e que muito se perdeu com o
tempo, restando-me somente indagações para as suas justificativas.
Lembrei-me
dos tempos de criança, no bairro onde nasci e me criei. Do saudoso Educandário
Cassimiro de Abreu, dos professores, dos funcionários e colegas. Depois do
Instituto Pedagógico Assunção, colégio Rui Barbosa e os tempos de faculdade. Que
boa lembrança do amigo João da Pipoqueira, que permitia-nos, ao fim de sua
jornada diária de trabalho, no período invernoso, fritarmos “bundinha” de
formigas tanajuras, que colhíamos, para mostrar que éramos de coragem.
Quanto
tempo passou, hein? Até na construção, em regime de mutirão, de nossa paróquia
de Nossa Senhora da Assunção, estivemos presentes. Moleques, todos nós, na
época, orgulhamo-nos até hoje de ter feito parte da edificação de um templo tão
importante para o nosso bairro.
Lembrei-me
também das inúmeras brincadeiras nas ruas do meu bairro, na área verde que
circundava o conjunto onde morávamos. Era a porta de entrada para um manguezal
que hoje perdeu a sua beleza, o seu encanto, para a especulação imobiliária.
Nesse tempo, brincávamos à vontade no meio do mato, colhendo frutos,
banhando-se nas lagoas, pescando nos córregos, alheios a uma insegurança que
teimávamos em acreditar existir, e que hoje, insiste em nos fazer acreditar que
um dia pode acabar.
Amigos
de bairro, vizinhos de rua, e até aqueles que não tínhamos tanta aproximação,
eram como nossos irmãos. Se brigássemos por uma bobagem qualquer, logo
estaríamos em paz. Éramos como uma família e acreditávamos que irmãos não
podiam ficar intrigados. Hoje, é bem diferente, não é?
Mas
com o passar do tempo, muita coisa mudou. A caixa d´água da esquina de minha
casa não existe mais. Nela, de seus quase 18 metros e de escadas perigosas,
subi muitas vezes para soltar arraia lá de cima. Lembro o dia que o Sr.
Reinaldo, que Deus o tenha num bom lugar, me viu lá da frente de sua casa e
contou para meu pai. Desci às pressas, diante dos gritos de meu pai e a batida
de seu cinto na sua perna. Pena que
escapei da peia naquele momento, mas em casa... Bons tempos que não voltam
mais.
Com o
tempo perdi muitos amigos para a criminalidade. Pessoas boas que optaram por
seguir caminhos tortuosos, e que hoje, se alguns não mais estão entre nós, estão levando uma vida marginalizada, em meio
às drogas, porém, merecedores de todo o nosso respeito e consideração. Não
podemos virar as costas para quem fez ou faz parte de nossas vidas. Escolhas
são feitas, caminhos são traçados, e lembranças existem, boas ou ruins, mas
existem, e servem também para refletirmos sobre nossas vidas, hoje.
Já
não moro no mesmo bairro. Segui minha vida e moro em outro, próximo, na mesma
cidade. Entretanto, o Conjunto Residencial Cidade de Nova Assunção, que pouca
gente sabe que é o seu nome original, e o bairro Barra do Ceará estão e
estarão, sempre, na minha memória e coração. Meus pais ainda moram lá, e aquela
casa, deles, ainda posso dizer que é minha.
Muitos
amigos e vizinhos ainda permanecem no bairro onde nascemos, e que é ainda é
nosso. Lá, dão continuidade às suas novas gerações. Se não temos mais tanta
aproximação uns com os outros, por motivos diversos, já que os caminhos são
seguidos em sentidos diferentes, uma certeza existe, a de que o respeito
permanece.
Não
queria esquecer de citar ninguém, quanto menos de algum detalhe importante da
minha infância e juventude. Seria no mínimo injusto. São tão bons de serem
recordados. Representam marcas na nossa vida, jamais apagadas.
O
mundo dá suas voltas, ninguém pode negar. Caminhos são seguidos, como
diferentes direções, por cada um de nós. Mas memórias existem para ajudarmos a
recordar do nosso passado, mesmo que não seja garantia de uma boa lembrança, e não
sendo, que sirva para entender que pode ter servido ou servir para dar uma
volta por cima na vida.
Você tem facilidade de expressar o seu pensamento, tornando fácil a compreensão do seu texto, quando muitos deixam dúvidas, após a leitura, e o que foi dito antes define a sua maturidade sintática e estilística! Muito bom o seu texto!
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