por
Carlos Delano Rebouças
Belchior
escolheu se afastar dos holofotes, e sempre lamentamos o seu distanciamento da
mídia, não porque seja saudável, e sim, por ela ainda permite acompanhar artistas
e personalidades que respeitamos, noticiando-nos sobre o andamento de suas
carreiras.
Belchior
preferiu abandoná-la. Disse: “Saia do meu caminho, que prefiro anda sozinho,
deixe que eu decida a minha vida...”. E decidiu. Mesmo com medo de avião, segue
pelo mundo vivendo à sua maneira. Há tempo, há muito tempo longe de casa,
escolheu o mundo como sua nova casa, aquela que se sente em paz e mais feliz.
É um artista de belas canções, daquelas que
marcam no repertório de qualquer apreciador da boa música. Apaixonado ou não,
ninguém ao ouvi-las consegue segurar a emoção e calar a boca desenfreada que
pede pelo menos que cante um verso sequer de seus belos poemas. São músicas
brasileiramente lindas!
Podem
até dizer que foi desilusão ter abandonado o solo do nosso país. Alucinação,
jamais! Um cearense a caminhar pelo mundo em busca de mostrar sua arte
naturalmente, quem sabe, num barzinho de uma esquina uruguaia, sem cobranças.
Basta entender que o mundo é de todos, e por ser apenas um rapaz latino
americano, já é o suficiente para seguir sua vida, sem mesmo precisar dizer que
é um sujeito de sorte.
Belchior
é a sensibilidade da música brasileira. Suas canções significam unir sentimento
e reflexão sobre o mundo e sobre a sociedade. É fecunda ao atingir a profundeza
da alma, assim como faz com o coração, por meio de poesia e melodia,
encantadoras, que na maciez de sua voz, ainda se tornam mais belas. É saber que aquela velha roupa colorida nem
sempre precisa ser vestida para alegrar o mundo com mais cores e brilho. É
saber da importância que o artista tem no mundo, de toda contribuição que pode
dar para que seja melhor, e, mesmo com as adversidades surgidas, não hesite em
fazer tudo outra vez.
O
nosso conterrâneo cearense não abandonou suas origens nem seu povo e seus fãs.
Ele conhece bem o seu lugar. Não se refugiou em algum lugar perdido do mundo
com medo de que alguém não o leve flores. São escolhas feitas por um artista
que viveu o bastante para saber o que é bom ou ruim para a sua vida. É, na
verdade, divertir-se com a divina comédia humana, às vezes, do jeito que o
diabo gosta, mas à distância, na certeza de que se sente feliz simplesmente por
saber que sua musicalidade faz bem ao coração de seu povo.
Belchior
não vive de aparências. Acredita, sim, que demonstramos ser e estar presos ao
passado, sem jamais abandoná-lo, e sempre a perpetuá-lo, pelas gerações, bem
como acredita que vivemos como os nossos pais.
Eu também, e você?
Claro
que sim, contudo, antes do fim, quando ele ganhou esse mundo de meu Deus,
fazendo dele o seu caminho, Belchior sabia que muito mais que um carro
abandonado no estacionamento do aeroporto de Fortaleza, deixou para trás
angústias e dessabores. Porém, sabe que eternizou sua obra, que, em uma delas,
com um comentário a respeito de John. Deixou também o perfil de um pequeno
cidadão do mundo que, com sua simplicidade, fez e faz lindas canções, sem medo
de desagradar, pois sua sensibilidade é capaz de atingir a todos os amantes da
boa música, especialmente, a quem o admira.
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