Florbela Espanca foi uma mulher que viveu muito à frente do seu tempo. Assuntos como política não a interessava, nem mesmo levantava nenhuma bandeira feminista. Na verdade, queria somente viver a própria vida e nada mais. Inúmeras injúrias da sociedade portuguesa da década de 20 foram amagadas por escolher viver de igual para igual com os homens. Definiu-se como poeta numa época em que essa palavra só pertencia ao gênero masculino (regra até hoje mantida por algumas revistas e jornais brasileiros).
Florbela Espanca era muito intensa. Parecia não caber em si mesma, precisava se expandir de alguma forma e a poesia foi o caminho. Embriagava-se com a vida, mas, paradoxalmente, a vida não lhe bastava. Insaciável, dizia que se cansava até de desejar. E toda essa intensidade é vista na sua obra, repleta de metáforas, cores, cheiros, que nos dão a sinestésica e nítida impressão do que ela estava sentindo naquele momento e só podia compartilhar com uma folha de papel, em seus descosidos monólogos.
Com tamanha angústia na alma, ela decide dormir eternamente. Escolhe o dia e a hora dos seus 36 anos, às 2 horas da manhã do dia 8 de dezembro de 1930, para tomar overdose de Veronal, remédio que passou a usar para combater a insônia que a atormentava desde criança.
Por volta dos oito anos de idade, Florbela Espanca escreveu seu primeiro poema:
A Vida e a Morte
O que é a vida e a morte
Aquela infernal inimiga
A vida é o sorriso
E a morte da vida a guarida
Aquela infernal inimiga
A vida é o sorriso
E a morte da vida a guarida
A morte tem os desgostos
A vida tem os felizes
A cova tem a tristeza
E a vida tem as raízes
A vida tem os felizes
A cova tem a tristeza
E a vida tem as raízes
A vida e a morte são
O sorriso lisonjeiro
E o amor tem o navio
E o navio o marinheiro
O sorriso lisonjeiro
E o amor tem o navio
E o navio o marinheiro
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