por Carlos Delano Rebouças
Poeta da escola barroca brasileira, mas com fortíssimas influências
europeias, Gregório de Matos, ou simplesmente ‘O Boca do Inferno’, tornou-se
emblemático pelas suas poesias de cunho lírico, erótico e religioso, mas
principalmente, satírico, em pleno século XVII.
O apelido foi atribuído em virtude de não ter hesitado em construir suas
obras, mesmo que tenham sido publicadas depois de sua morte, sendo contundente,
crítico, principalmente com a igreja, mas também com os políticos e a sociedade
da época, expondo em métrica e rima todo o seu ponto de vista, que sempre
causou um mal estar imenso a muita gente, que consequentemente, levou-o a sofrer
muitas represálias. Gregório até parecia querer causar um reboliço na sociedade
da época... Causou e causa, hoje, para quem conhece suas obras.
Hoje, o grande poeta certamente teria bem mais inspirações para produzir
suas poesias. Muitas seriam as influências, não acham? Na religiosidade, por
exemplo, pelos diversos escândalos na igreja católica e a adoção da teologia da
prosperidade nas diversas igrejas protestantes espalhadas no nosso país. Na
política, nem se fala. Nas três esferas, e em toda parte do país, iria
encontrar muita inspiração. Os políticos são maravilhosos para os artistas.
Na sociedade, principalmente quando se tem a influência política e
religiosa, aí que seria um ‘prato cheio’ para o ‘Boca do Inferno’ se esbaldar
na construção de seus textos. Se não duvidarmos, Gregório de Matos seria, hoje,
vivo, quem sabe, bem menos contundente, e evitaria tantas perseguições que
sofrera, e tido vida longa, com mais saúde, para usufruir de tantas
inspirações, principalmente as pornográficas que permeiam o mundo de hoje.
Brincadeirinha gente! Se hoje fosse se comportar assim, não seria o
Gregório de matos e morreríamos de saudade do verdadeiro ‘Boca do Inferno’.
Mas será que temos muitos
‘Gregórios’ de Matos no Brasil de hoje? Certamente que não. Pela coragem de
falar, de escrever o que pensa e de formar opinião, até pode ser. O brasileiro,
enfim, consegue hoje ter mais liberdade de ventilar seus pensamentos, suas
ideologias. Entretanto, fazer tudo isso de forma poética, em dois quartetos e
dois tercetos, metricamente ajustados, numa rima perfeita, e com uma beleza
imensurável, é somente para um poeta único, singular, que ficou marcado na
nossa história literária.
Somente para Gregório de Matos.
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