terça-feira, 14 de março de 2017

Grande refeitório, imenso berçário


Autor: Carlos Delano Rebouças

Não conto as vezes que ouvi pessoas compararem a escola pública a um acolhedor refeitório, onde alunos se sentiam bem mais à vontade que a sala de aula, e por ele se esforçavam a ir à escola bem mais pela necessidade. Tratava-se de uma certeza para muitos, inclusive, educadores, pais e responsáveis. Felizmente, em várias partes do Brasil, parece que essa concepção vem mudando, bem como o interesse de muitos alunos menos favorecidos pela educação do País.

Certa vez vi uma postagem de uma colega educadora, pela qual tenho profundo respeito, atuante em escolas públicas do Ceará, listando dezenas de nomes de alunos de uma escola na qual é coordenadora, que obtiveram êxito no último Enem, conquistando o direito de ingressar em universidades públicas em diversos cursos, inclusive, na maioria, aqueles mais concorridos no mercado. Ela, em sua postagem, parecia muito feliz e realizada com tal feito de seus alunos.

Não só parecia, como estava muito satisfeita com o resultado de alunos guerreiros e obstinados. Sabe ela, tanto quanto eles, das dificuldades enfrentadas para alcançar o sucesso tão desejado. Feliz, fiquei eu em ver que a educação pública, quando tratada com zelo e responsabilidade, pelos seus agentes diretos, comprometidos com a educação, consegue dar respostas a um sistema falido que impõe que somente pela educação privada se forma cidadãos e se alcança o sucesso na vida. Puro engano!

Infelizmente, a educação privada, quase na sua totalidade, parece que vem se tornando uma grande creche, um berçário não somente de criança, mas também de jovens e adultos, já que se estende para a educação superior, acreditem. São tratamentos absolutamente paternalistas, sobretudo que interferem na formação de caráter, que sobrepõem aos interesses de educar para a vida e para o mundo, e que o repasse de conhecimento e valores condizentes com a realidade exigida é o que menos interessa. Verifica-se, claramente, uma insensatez gigantesca levada pelo desespero de manter alunos a qualquer custo os alunos que possuem e pela necessidade competitiva de conquistar mais e mais alunos, transformando a escola literalmente no espaço familiar, contudo, sem a presença dos pais, estes, envolvidos até o pescoço em seus interesses que nada têm a ver com os dos filhos, entregues á escola que transfere a responsabilidade a coordenadores e professores.

Triste realidade essa nossa – da educação brasileira – que apresenta uma educação particular, quase toda, centrada clientelismo, formadora bem mais de “máquinas” que só enxergam a educação como um trampolim capaz de dar saltos em busca de se encontrar com carreira a seguir na vida, e que, por outro lado, não entende nem aceita ver estudantes da educação pública, trilhando os caminhos valorosos do sucesso, sobressaírem-se em ralação a tantos dos seus que têm muito mais oportunidades. É, sem dúvida alguma, a confirmação de um paradoxo que reflete uma perceptível insensatez no trato da educação do nosso país, cuja sociedade visa somente o dinheiro como principal objetivo em detrimento de uma educação transformadora, capaz de lapidar vidas e almas.



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