por
Carlos Delano Rebouças
Certa vez ouvi de um
aprendiz que todos nós somos um CPF. Detalhe: foi meu jovem aprendiz de
atividades bancárias e era bem dessa forma que via o ser humano ser tratado no
ambiente bancário.
Diante desse pensamento, a
priori, que pode significar um parecer prematuro de um jovem que mal se
iniciava no mercado de trabalho, sobretudo influenciado pelo ponto de vista dos
mais experientes, entendemos que tem toda a razão de enxergar dessa forma,
aliás, digo-lhe muito obrigado, pois me serviu de avaliação sobre outros
cenários em que nós nos inserimos.
Para a segurança pública,
não passamos de bases. Registros de crimes diversos em que o homem é o maior protagonista,
que tem cara de matemática, ou seja, são números, frações, elementos e dados de
uma convivência social que precisamos manter e que tem seu preço. Na verdade,
são características de uma ciência exata que não sabe precisar aonde a humanidade
vai chegar.
Para a medicina, por exemplo,
somos diagnóstico e prognóstico; alegrias e tristezas; sucessos e insucessos. Somos
esperança? Talvez! Quem sabe, um caso a se confirmar, mas, caso se confirme,
com toda a frieza existente de uma ética obedecida milenarmente.
Somos também parte de uma geografia
que delimita a nossa posição social, política e econômica dentro de um espaço e
de uma sociedade. Mistura-se com a história nessa questão de definir o homem
como elemento economicamente ativo ao longo dos tempos, dentro de sistemas
políticos que pouco o favorece. Conta a história de mais um de tantos e de
tantas nações que foram colonizados e explorados, e que continua, continua,
continua...
Passamos, então, a ser
somente peças de um jogo em que o raciocínio pouco nos interessa, já que somos
apenas peças, manuseáveis e manipuláveis de um jogo sem regras definidas. Somos
descartáveis, preteridos quase sempre, e preferidos em alguns momentos quando o
interesse prevalece. No jogo da vida, somos bem assim mesmo.
Na visão da física, somos
um corpo que sobe e desce na gangorra da vida; que não ocupa um mesmo espaço,
diga-se de passagem, disputadíssimo. Somos vítimas quase sempre de uma ação que
nem sempre tem uma reação à altura da que necessita, aliás, bem mais incorreta.
E sem perder muito tempo, chego à química que até tenta nos identificar pela nossa
essência, mas, por meio de tantas transformações, que a biologia define como
metamorfose, fracassa em tentar encontrar a fórmula da nossa felicidade, se é
que existe.
Aí, você me pergunta: Como
um autêntico professor de Língua Portuguesa, defensor de que todo nativo deve
honrar o nosso vernáculo como o bem maior de uma nação, em que momento somos
nossa língua nessa interessante analogia da vida?
Somos tudo que descrevemos,
narramos e dissertamos; somos tudo o que defendemos de belo, de interessante e
de intrigante. Somos tudo que instigamos pela fala e a escrita; somos gestos e
silêncio. Somos um grito calado numa multidão que desconhece o seu valor, que sequer
consegue decodificar, quanto mais ler um texto que edifique e o transforme. Somos
um texto assim.
Nenhum comentário:
Postar um comentário