Por Carlos Delano Rebouças
Nossa turma de amigos era muito unida e sempre dedicávamos
muito do nosso tempo para o nosso convívio. Festas, íamos juntos, riamos juntos
e voltávamos sempre felizes para casa. Nada quebrava aquele ambiente saudável
semeado entre nós, amigos de infância, filhos do mesmo bairro, e muitos da
mesma rua. Amizade sincera e verdadeira, que fazia com que todos nós conhecêssemos
muito bem uns aos outros.
Em meio a tantas brincadeiras desconcertantes, uma delas
arrancava muitas risadas, mesmo que significasse um “sofrimento” para Gláucio.
Não podíamos tocar-lhe a cintura, que sua sensibilidade aguçada, fazia-lhe reagir
com sustos, aos pulos, e de imediato, virava um momento de descontração e risos,
aos gritos de: “Olha a faca”.
A expressão “olha a faca” é muito usada nessas
circunstâncias, quando cutucamos com as pontas dos dedos o corpo de alguém,
como Gláucio, com alta sensibilidade, a fim de assustar, e, com isso, tornar
aquele momento cômico. Como brincadeira, funciona assim, porém, provém de uma
gera uma expressão que, infelizmente, é oriunda de péssimos hábitos, violentos,
sangrentos, e para não esquecermos, trágicos. Em outros tempos, eram típicos do
interior do Brasil, e hoje, toma conta das ruas do Rio de Janeiro e de todo o
país.
Gláucio pode certamente não apreciar a brincadeira que
tanto lhe incomoda. Detesta quando seus amigos o cercam, deixando-o acuado, sem
defesa, a mercê de suas investidas com cutucadas, felizmente, com as pontas dos
dedos, e aos gritos e gargalhadas de “olha a faca!”.
Mas depois da
brincadeira, e refletindo sobre a violência que toma conta deste país, relaxa e
agradece a Deus, pedindo sempre que o proteja de não ser vítima de uma
brincadeira de mau gosto, como estas, praticada nas ruas do Rio de Janeiro, e
que infelizmente, logo tomará conta das ruas do país inteiro, pois tudo que é
noticiado vira moda, instantaneamente.
Gláucio não mais se assusta tanto com as brincadeiras dos
amigos de infância. Até entende que seu jeito de ser representa uma
oportunidade de descontração, entretanto, a frase “olha a faca” escutada por
ele, hoje, não soa mais como uma frase de brincadeira dos amigos, ou seja, já
lhe traz preocupação, a mesma que ocupa a mente de cariocas e brasileiros.
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