por Carlos Delano Rebouças
Hoje
tudo parece mais fácil. Trocamos de roupas, carros, celulares e de amigos e
maridos e esposas tão rapidamente, que nem mesmo percebemos. São outros tempos,
como dizem os mais antigos ou mesmo aqueles que pensam saudosamente como eles.
Nostalgicamente,
recordei-me, um dia desses, de tantas situações vividas que marcam em nossas
memórias, mas não com a mesma intensidade que se percebe em nossos corações e, principalmente, na nossa consciência. Lembrei-me do tempo que existia uma
ingenuidade que raramente se vê até mesmo nas crianças, as quais, infelizmente,
cada vez mais se demonstram maliciosas, como se este fosse o único e
inquestionável diferencial competitivo em um mundo que não aprendeu a discernir
os dois lados de uma moeda.
Nas
redes sociais, caçando vídeos da minha época de garoto, pude rever episódios da
primeira versão do Sítio do Pica-pau Amarelo, matando a saudade de personagens
como Tia Anastácia, Dona Benta, Pedrinho, Narizinho, Saci-Pererê, Visconde de
Sabugosa, dentre tantos que nos alegravam nos finais de tarde de uma televisão
brasileira que já não existe mais. Como era bom ver que o maniqueísmo parecia
tão inocente, e que as figuras astutas de Emília e Saci não se prevaleciam em
relação à pureza e à ingenuidade de Narizinho e Pedrinho! Aliás, cada
personagem tinha a sua importância em um mundo de faz de contas, desejado por
todos, no mais íntimo momento, para ser a sua única realidade.
Pena
que vivemos em pleno século XXI uma realidade bastante diferente dos anos 1970
e 1980. Não se passaram muitos anos, não; passaram-se apenas algumas décadas, contudo,
um período suficiente para nos fazer sentir saudades de um tempo que não volta
mais.
Que bom sabermos que existem condições favoráveis para uma boa recordação. Como é maravilhoso saber que fizemos parte de uma época e de uma geração que sabia valorizar situações e condições, que aos olhos da modernidade parecem insignificantes, mas que na realidade não tinham como ser dimensionadas. Melhor ainda é ter a certeza de que nossas crenças em relação à humanidade e sua postura social, enxergadas da mesma forma como os personagens do Sítio do Pica-pau Amarelo procuravam viver, é muito mais que uma regra para se viver bem; é a acreditar que jamais será uma exceção para sentir-se feliz.
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