por Carlos Delano Rebouças
Recordo
de uma situação cômica protagonizada pelo meu pai, um senhor de 78 anos bem
vividos, nascido no interior do Ceará, Baturité, com hábitos e costumes de
grande parte de sua vida, comuns de uma simplicidade, bem diferente dos dias de
hoje. Situação esta que ainda me arranca risadas, mas que contarei adiante.
Mas
falando sobre meu pai, o grande Hugo Pinheiro, já na sua maioridade, veio para
Fortaleza, estudou, deu continuidade a sua vida profissional, casou-se e
constituiu família. Passou a desenvolver hábitos dos habitantes típicos da
capital, mas na verdade, não totalmente, ou seja, ainda carrega consigo
costumes que jamais perderá até os seus últimos dias, e alguém duvida?
Não
sai de casa sem o seu pente de bolso, pequeno, junto com sua identidade no
bolso da frente da camisa, que teima em tê-lo. Com o seu radinho de pilhas,
encostado ao travesseiro, dorme todas as noites, e olhe lá se alguém o tira ou
desliga, que logo leva um carão. Os noticiários jornalísticos na TV, como no
rádio, AM, fazem parte de sua rotina diária. Assim são seus hábitos e costumes,
típicos e dignos de um cidadão interiorano.
Hoje
as coisas são bem diferentes. As pessoas se transformam a cada instante e põem
a culpa no progresso, na globalização. O brotinho virou gata. Festa agora é
balada. E refeição virou um lanchinho rápido, para não se perder tempo. Tem-se
tempo para tudo, exceto que seja para lembrar as raízes familiares.
Ninguém
se senta mais com os avós para ouvir histórias de sua terra, que também são
suas, pois foi lá que tudo começou. Ninguém tem mais paciência para ouvir
ninguém, pois a tecnologia toma todo tempo possível e disponível, e quando há
uma insistência em manter os costumes, logo são interrompidos, pois qualquer
coisa se torna mais importante que bons momentos e boas recordações.
Alguém
já ouviu o ditado que tem gente que sai do mato, mas o mato não sai dele? Pois
é, meu querido pai um dia foi presenteado por este filho dedicado com um
apetitoso sanduíche no pão árabe, destes bem diferentes dos tradicionais
sanduíches que comia muito na minha adolescência, naqueles quase extintos
trailers de lanches, que faziam sanduíches somente com pão bola ou forma, e
comíamos com muito prazer, somente com maionese e catchup. Então, diante
daquela guloseima a sua frente, pediu o prato a minha mãe e disse: “Traga a
farinha”.
Risadas,
demos, mas na verdade, desconhecendo o alimento, tratou de prepará-lo ao seu
modo, adquirido ao longo de sua infância e adolescência. E que deem risadas e
danem-se seus autores. O que importa é que seja um homem feliz. O pão árabe foi
consumido, na íntegra, e se alguém ainda duvida de que se trata de um homem
moderno, lida com computadores, tem E-mail, Twitter, Facebook, e se define como
um homem em contínuo desenvolvimento, mas bem distante de abandonar
determinados hábitos.
Nenhum comentário:
Postar um comentário