quinta-feira, 15 de setembro de 2016

O GOSTOSO DILEMA DE ESCREVER

Por Carlos Delano Rebouças

Escrever um texto, em certas ocasiões do meu dia a dia, mais parece um dilema, quem sabe, uma tarefa das mais árduas, quando sequer sei quem será seu leitor. Fico a pensar como seria se gritasse para o mundo ouvir: Quem vai lê-lo, quem?!!!

Pior ainda é quando surge, do quase inesperado, algo que venha a atrapalhar, a tirar-me a atenção, desviando o meu pensamento, desconcentrando-me, tornando a minha mente inabitável de ideias, vazia e irreconhecível. Pareço-me um vale inóspito, cujo acesso desconhecido ninguém quer desbravar. “É muito ruído nessa casa, gente”! Grito desesperadamente.

Lembro-me, quando criança, de que adorava ser um estudante com aulas matinais, muito mais por ter as tardes tranquilas da minha casa para estudar o assunto visto na escola; bem menos por ter de alevantar pelas cinco e meia da manhã, preguiçoso, sentido minha mãe me vestir e me calçar ainda dormindo, acreditem, sem mesmo um banho tomar. Por muitos anos foram assim, até que um dia a vaidade bateu em minha porta e disse: “Vais não tão cheiroso para a escola, cara, e as meninas que se aproximam de ti”?

Mudei. Demorou, mas abandonei aquele hábito de infância que hoje me recordo com saudades...

Mas, voltando ao meu queixoso dilema de produzir meus textos, deixando as minhas saudosas lembranças de lado só um pouquinho, busco, sinceramente, encontrar meios para driblar as adversidades. Preciso escrever, preciso me manifestar o que penso do mundo, da vida, das pessoas. Devo permitir que alguém que nem sempre sei que e ou será leia meus escritos, porque sei que pode fazer a diferença em sua vida. Entenda, pois é muito mais que uma manifestação pessoal do sentir e pensar e do perceber; é o meu lado social mostrando a sua responsabilidade.

Tendo essa certeza – de que devo deixar fluir minhas ideias para fazer a diferença na vida das pessoas -, busco o silêncio e a concentração no meu cantinho, à frente do meu computador, de posse das minhas lembranças, pelas minhas percepções e concepções do mundo. Ajudem-me, pelo amor de Deus, preciso de um pouco de silêncio, somente!

Incrível como ninguém me atende ao pedido. Vejo-me impotente, inaudível, fraco e convalescido. Custo a entender as razões que levam a tão pouco ser ignorado. Pouco?!

Pouco que nada; pena que essa medida - a do prazer da leitura e do conhecimento - poucos são os que conhecem, podem crer. Essa diferença entre o muito e o pouco, a qual leva a caminhar pela estrada do interesse, reside na capacidade que cada um de nós tem de discernir entre aquilo que agrega ou não em nossas vidas. De reconhecer o verdadeiro valor de uma reflexão, quando, obviamente, sabe-se fazer, embora tudo conspire para desconhecê-lo e ignorá-lo.

Apesar de todas as adversidades, escrever para externar toda a minha visão do mundo, com toda a minha responsabilidade social, continua a ser um dos meus maiores prazeres. Continuarei, caso seja necessário, a gritar pelo silêncio, mesmo sem saber que irá apreciar o meus escritos, embora também pareça, algumas vezes, ser um gostoso dilema.



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