Por
Carlos Delano Rebouças
Escrever
um texto, em certas ocasiões do meu dia a dia, mais parece um dilema, quem
sabe, uma tarefa das mais árduas, quando sequer sei quem será seu leitor. Fico
a pensar como seria se gritasse para o mundo ouvir: Quem vai lê-lo, quem?!!!
Pior
ainda é quando surge, do quase inesperado, algo que venha a atrapalhar, a
tirar-me a atenção, desviando o meu pensamento, desconcentrando-me, tornando a
minha mente inabitável de ideias, vazia e irreconhecível. Pareço-me um vale
inóspito, cujo acesso desconhecido ninguém quer desbravar. “É muito ruído nessa
casa, gente”! Grito desesperadamente.
Lembro-me,
quando criança, de que adorava ser um estudante com aulas matinais, muito mais
por ter as tardes tranquilas da minha casa para estudar o assunto visto na
escola; bem menos por ter de alevantar pelas cinco e meia da manhã, preguiçoso,
sentido minha mãe me vestir e me calçar ainda dormindo, acreditem, sem mesmo um
banho tomar. Por muitos anos foram assim, até que um dia a vaidade bateu em
minha porta e disse: “Vais não tão cheiroso para a escola, cara, e as meninas
que se aproximam de ti”?
Mudei.
Demorou, mas abandonei aquele hábito de infância que hoje me recordo com
saudades...
Mas,
voltando ao meu queixoso dilema de produzir meus textos, deixando as minhas
saudosas lembranças de lado só um pouquinho, busco, sinceramente, encontrar
meios para driblar as adversidades. Preciso escrever, preciso me manifestar o
que penso do mundo, da vida, das pessoas. Devo permitir que alguém que nem
sempre sei que e ou será leia meus escritos, porque sei que pode fazer a
diferença em sua vida. Entenda, pois é muito mais que uma manifestação pessoal
do sentir e pensar e do perceber; é o meu lado social mostrando a sua
responsabilidade.
Tendo
essa certeza – de que devo deixar fluir minhas ideias para fazer a diferença na
vida das pessoas -, busco o silêncio e a concentração no meu cantinho, à frente
do meu computador, de posse das minhas lembranças, pelas minhas percepções e
concepções do mundo. Ajudem-me, pelo amor de Deus, preciso de um pouco de
silêncio, somente!
Incrível
como ninguém me atende ao pedido. Vejo-me impotente, inaudível, fraco e
convalescido. Custo a entender as razões que levam a tão pouco ser ignorado.
Pouco?!
Pouco
que nada; pena que essa medida - a do prazer da leitura e do conhecimento - poucos
são os que conhecem, podem crer. Essa diferença entre o muito e o pouco, a qual
leva a caminhar pela estrada do interesse, reside na capacidade que cada um de
nós tem de discernir entre aquilo que agrega ou não em nossas vidas. De
reconhecer o verdadeiro valor de uma reflexão, quando, obviamente, sabe-se
fazer, embora tudo conspire para desconhecê-lo e ignorá-lo.
Apesar de todas as adversidades, escrever para externar toda a minha visão do mundo, com toda a minha responsabilidade social, continua a ser um dos meus maiores prazeres. Continuarei, caso seja necessário, a gritar pelo silêncio, mesmo sem saber que irá apreciar o meus escritos, embora também pareça, algumas vezes, ser um gostoso dilema.
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