Por Carlos Delano Rebouças
Tenho
um amigo de bairro, Danúbio, que em decorrência de um susto, quando criança,
não mais conseguiu falar, aliás, somente uma palavra: Não.
Seu
“não” não necessariamente nega alguma coisa; pode exprimir qualquer sentimento
que tenha, independentemente de ser bom ou ruim. Pronuncia, sempre, sob
quaisquer circunstâncias.
Danúbio
é alegre, observador e envolvente. Divide todos os momentos com amigos, que têm
um carinho muito grande por ele. Ele participa de todas as rodinhas,
interagindo, a sua maneira, numa comunicação bem estabelecida.
Danúbio
não é surdo. Escuta muito bem. Só não fala, aliás, somente o “não”.
Quando
entro nas redes sociais, lembro-me do Danúbio, e não teria como não recordar. Hoje, parece que todos querem que fiquemos
mudos, mas não surdos, diante da incompreensão em ler e ouvir o que externamos.
Danúbio
pode até não falar, articular palavras, frases, períodos, ou textos completos,
que exprimem seu pensamento, seu ponto de vista. Porém, aquele amigo de
infância, que pode parecer ingênuo, de bobo não tem nada. Tira suas conclusões
sobre as pessoas, sobre suas atitudes e sobre o mundo.
Como
Danúbio reage com indignação e repudia atitudes reprováveis de tatos, sem mesmo
pronunciar uma só palavra! Seus gestos e sua afeição são suficientes para
demonstrar a sua reprovação.
Nem
ao menos sei se Danúbio visita as redes sociais ou se interage no mundo virtual
com pessoas, as quais certamente não têm coragem de falar o que pensa,
diretamente, para pessoas, num mundo inteiramente real. Quem sabe, deva-se por
falta de argumentos ou de conhecimento, não é? Torna-se mais fácil e
conveniente, rebater com intolerância, nas redes sociais, sem argumentos
suficientes, que possam ofuscar a sua ignorância, e que servem somente para
instigar a violência, com um simples toque nas teclas.
Hoje
nas redes sociais temos que mais ouvir e ler, do que falar e escrever,
sobretudo, quando falamos para preparar olhos e ouvidos para respostas desmedidas
e descompensadas, e porque não, compreensíveis, diante de uma ignorância e
intolerância semeada.
Acredito
que Danúbio nem conheça esse mundo virtual. Tenho certeza se fosse perguntado
se tem Facebook, daria como resposta um “não” monossilábico com reticências e
gargalhadas, típicas de seu humor apurado.
Neste
caso, seu “não” seria de negação, mas, infelizmente, somente para o uso da
rede, e não, para o comportamento de pessoas que nela se apresentam, expõem-se,
e ratificam a sua intolerância, na vontade que todos se tornem somente
leitores, e nada mais.
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