quarta-feira, 1 de julho de 2015

ENSINAMENTOS DO MEU AMIGO DANÚBIO


Por Carlos Delano Rebouças

Tenho um amigo de bairro, Danúbio, que em decorrência de um susto, quando criança, não mais conseguiu falar, aliás, somente uma palavra: Não.

Seu “não” não necessariamente nega alguma coisa; pode exprimir qualquer sentimento que tenha, independentemente de ser bom ou ruim. Pronuncia, sempre, sob quaisquer circunstâncias.

Danúbio é alegre, observador e envolvente. Divide todos os momentos com amigos, que têm um carinho muito grande por ele. Ele participa de todas as rodinhas, interagindo, a sua maneira, numa comunicação bem estabelecida.

Danúbio não é surdo. Escuta muito bem. Só não fala, aliás, somente o “não”.

Quando entro nas redes sociais, lembro-me do Danúbio, e não teria como não recordar.  Hoje, parece que todos querem que fiquemos mudos, mas não surdos, diante da incompreensão em ler e ouvir o que externamos.

Danúbio pode até não falar, articular palavras, frases, períodos, ou textos completos, que exprimem seu pensamento, seu ponto de vista. Porém, aquele amigo de infância, que pode parecer ingênuo, de bobo não tem nada. Tira suas conclusões sobre as pessoas, sobre suas atitudes e sobre o mundo.

Como Danúbio reage com indignação e repudia atitudes reprováveis de tatos, sem mesmo pronunciar uma só palavra! Seus gestos e sua afeição são suficientes para demonstrar a sua reprovação.

Nem ao menos sei se Danúbio visita as redes sociais ou se interage no mundo virtual com pessoas, as quais certamente não têm coragem de falar o que pensa, diretamente, para pessoas, num mundo inteiramente real. Quem sabe, deva-se por falta de argumentos ou de conhecimento, não é? Torna-se mais fácil e conveniente, rebater com intolerância, nas redes sociais, sem argumentos suficientes, que possam ofuscar a sua ignorância, e que servem somente para instigar a violência, com um simples toque nas teclas.

Hoje nas redes sociais temos que mais ouvir e ler, do que falar e escrever, sobretudo, quando falamos para preparar olhos e ouvidos para respostas desmedidas e descompensadas, e porque não, compreensíveis, diante de uma ignorância e intolerância semeada.

Acredito que Danúbio nem conheça esse mundo virtual. Tenho certeza se fosse perguntado se tem Facebook, daria como resposta um “não” monossilábico com reticências e gargalhadas, típicas de seu humor apurado.

Neste caso, seu “não” seria de negação, mas, infelizmente, somente para o uso da rede, e não, para o comportamento de pessoas que nela se apresentam, expõem-se, e ratificam a sua intolerância, na vontade que todos se tornem somente leitores, e nada mais.

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