Por Carlos Delano Rebouças
Certa
vez, fiquei extremamente orgulhoso com o departamento de desenvolvimento de uma
empresa de transporte urbano, que esta, passou a dar oportunidade a
profissionais motoristas do sexo feminino. Pena que com o tempo, frustrações
foram geradas.
Várias
mulheres tiveram oportunidades como nunca tiveram em um segmento profissional,
até então, machista, que enxergava e fazia enxergar na mulher um ser
despreparado para o exercício da função de motorista de ônibus. Entretanto,
todas elas tinham uma voz de peso em suas defesas, a psicóloga responsável pelo
RH da empresa.
Não
demorou muito para perceber que o quadro feminino da função diminuía, e nenhuma
outra era contratada como reposição. Aos poucos, reduziu-se a nada. Percebeu-se
também que aquela voz defensora da coletividade feminina perdia força,
calava-se, e até, escondia-se. Assim, perguntavam as meninas: “Cadê a doutora”?
A
doutora sempre esteve lá, na empresa, como gestora de um setor inquestionavelmente
importante. Porém, o que fez calar alguém que tanto defendeu a função poder ser
exercida por mulheres, num universo ainda tão masculino, e visto, assim,
também, pelos profissionais envolvidos e pelos clientes? Onde estava aquela
força feminina que erguia a bandeira da mulher, quebrando uma cultura dentro do
setor?
Várias
foram e ainda são as respostas para tais indagações, que variam desde a
compreensão de uma luta vencida pelo preconceito, até, a analisar até que ponto
vale defender uma causa que pode levar a perder seu espaço, cair num descrédito
que redunde numa perda de emprego.
Assim,
acreditaram muitos, inclusive os homens profissionais do volante e nas demais
funções. A “doutora” fez o que pode, resistiu e fez resistir até onde deu, mas
entre ela e aquela dezena de mulheres, seu lado pesou mais. É dessa forma que
funciona o imponderável.
Como
aquela profissional, quantas outras existem no mercado. Quantas não conseguem
desenvolver seu trabalho, como sonhavam fazer, diante de uma postura engessada,
que não permite experimentos, mudanças e transformações? Como ela, muitas ao
ler este artigo, dirão: “encontro-me nesta condição”.
Não
sintam vergonha em aceitar esta condição. Entendemos perfeitamente. São os ossos
do ofício. Entendam que o mais importante é pensar diferente, e este é o
primeiro passo para pensar numa nova atitude, de contagiar a quem precisa ser
contagiado. Imaginem, pelo enxergar do brasileiro, que vê em tudo sempre o seu
lado bom, como deve ter ficado desapontada com tudo que aconteceu consigo e com
suas colegas.
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