terça-feira, 24 de março de 2015

MÃOS ENRUGADAS QUE DIZEM TUDO


MÃOS ENRUGADAS QUE DIZEM TUDO

Por Carlos Delano Rebouças

Ouvi de minha esposa que a parte de corpo da gente que envelhece primeiro, que logo apresentam sinais dos tempos é as mãos. Logo elas, que tanto participam de nossas vidas.

Essa foi uma nova oportunidade de conhecer histórias sobre a anatomia humana. Nova porque cresci ouvindo das pessoas do bairro onde nasci e me criei, que as orelhas do senhor Castoré, avô de um de nossos amigos, eram grandes, porque é junto com o nariz as partes do nosso corpo que só estacionam seu crescimento quando morremos. Pobre do senhor Castoré, morreu bem velhinho e com orelhas enormes. Meu pai vai no mesmo caminho, com a graça de Deus.

Mas vamos esquecer as orelhas e o nariz, e retornemos ás nossas mãos. Pobre delas, que tanto têm a nos mostrar e provar que sem elas, teríamos uma vida bem mais complicada.

São as mãos que nos seguram no colo, pequeninos, nos primeiros momentos de nossas vidas. Nascemos pelas mãos de parteiras, médicos e enfermeiras, e logo somos entregues nas mãos de nossas mães. Também pelas mãos de Deus, sob a fé que preferimos seguir, damos passos numa caminhada ao longo de nossas vidas, que muitas vezes, pelas mãos dos homens e de seus interesses, esse caminho pode ser limitado. Representa a nossa história contada numa realidade, na contramão dos interesses divinos.

Na nossa iniciação educacional, e até mesmo antes de conhecer um ambiente escolar, em casa mesmo, descobrimos o mundo pelas mãos, a mesma, que permite conhecer pelo tato, apresentando-se como um instrumento que “assassina” uma curiosidade em descobrir um novo. Em seguida, já numa escola, conhecemos o lápis, as cores, e todos os recursos para o desenvolvimento educacional. Parecemos artistas plásticos mirins ou escritores de um dialeto só, que não tardam novas descobertas, caso se confirme uma perfeita orientação.

Contudo, apesar de todos os recursos da ciência e da medicina, com produtos que possam retardar ou combater o aparecimento dos sinais dos tempos, inevitavelmente acontecem. As rugas, dentre outros sinais não demoram a chegar com a idade. Às vezes, nem percebidas, até que alguém chame a sua atenção.

Foi assim, que um dia, conversando com a Dona Carminha, minha querida avó, fazendo o carinho de sempre, tocando em suas mãos, percebi e refleti: “Como a Vovó já está velhinha, de pela transformada pelo tempo, sensível, delicada, e que a faz diferente de década atrás”.

Faz diferente sim. Faz para mim, seu neto e um eterno admirador da terceira idade e de tudo que os idosos podem nos ensinar, uma diferença tremenda, a partir da certeza que tenho que suas mãos enrugadas, transformadas pelo tempo são sinais de muita vivência. Que por suas mãos, por exemplo, vieram a mundo 12 filhos, e destes, inúmeros netos e bisnetos, que amam, respeitam e admiram uma senhorinha de 92 anos, linda e maravilhosa, que Deus mantém viva para a nossa alegria.

Quem dera que muitos de nós, jovens e adultos de hoje, diante da situação que vive o mundo, possamos viver o suficiente para enrugar as mãos. Nosso rosto, certamente que sim, pois de tanto chorarmos, de tanto derramarmos lágrimas de sofrimento, não precisa mais chegar à terceira idade para apresentar sinais dos tempos.

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