domingo, 29 de março de 2015

AS VOLTAS QUE O MUNDO DÁ


AS VOLTAS QUE O MUNDO DÁ

Por Carlos Delano Rebouças

Hoje, veio-me à lembrança recordações de minha infância, de minha adolescência e de tantas coisas vividas em família, entre amigos, e que muito se perdeu com o tempo, restando-me somente indagações para as suas justificativas.

Lembrei-me dos tempos de criança, no bairro onde nasci e me criei. Do saudoso Educandário Cassimiro de Abreu, dos professores, dos funcionários e colegas. Depois do Instituto Pedagógico Assunção, colégio Rui Barbosa e os tempos de faculdade. Que boa lembrança do amigo João da Pipoqueira, que permitia-nos, ao fim de sua jornada diária de trabalho, no período invernoso, fritarmos “bundinha” de formigas tanajuras, que colhíamos, para mostrar que éramos de coragem.

Quanto tempo passou, hein? Até na construção, em regime de mutirão, de nossa paróquia de Nossa Senhora da Assunção, estivemos presentes. Moleques, todos nós, na época, orgulhamo-nos até hoje de ter feito parte da edificação de um templo tão importante para o nosso bairro.

Lembrei-me também das inúmeras brincadeiras nas ruas do meu bairro, na área verde que circundava o conjunto onde morávamos. Era a porta de entrada para um manguezal que hoje perdeu a sua beleza, o seu encanto, para a especulação imobiliária. Nesse tempo, brincávamos à vontade no meio do mato, colhendo frutos, banhando-se nas lagoas, pescando nos córregos, alheios a uma insegurança que teimávamos em acreditar existir, e que hoje, insiste em nos fazer acreditar que um dia pode acabar.

Amigos de bairro, vizinhos de rua, e até aqueles que não tínhamos tanta aproximação, eram como nossos irmãos. Se brigássemos por uma bobagem qualquer, logo estaríamos em paz. Éramos como uma família e acreditávamos que irmãos não podiam ficar intrigados. Hoje, é bem diferente, não é?

Mas com o passar do tempo, muita coisa mudou. A caixa d´água da esquina de minha casa não existe mais. Nela, de seus quase 18 metros e de escadas perigosas, subi muitas vezes para soltar arraia lá de cima. Lembro o dia que o Sr. Reinaldo, que Deus o tenha num bom lugar, me viu lá da frente de sua casa e contou para meu pai. Desci às pressas, diante dos gritos de meu pai e a batida de seu cinto na sua perna.  Pena que escapei da peia naquele momento, mas em casa... Bons tempos que não voltam mais.

Com o tempo perdi muitos amigos para a criminalidade. Pessoas boas que optaram por seguir caminhos tortuosos, e que hoje, se alguns não mais estão entre nós,  estão levando uma vida marginalizada, em meio às drogas, porém, merecedores de todo o nosso respeito e consideração. Não podemos virar as costas para quem fez ou faz parte de nossas vidas. Escolhas são feitas, caminhos são traçados, e lembranças existem, boas ou ruins, mas existem, e servem também para refletirmos sobre nossas vidas, hoje.

Já não moro no mesmo bairro. Segui minha vida e moro em outro, próximo, na mesma cidade. Entretanto, o Conjunto Residencial Cidade de Nova Assunção, que pouca gente sabe que é o seu nome original, e o bairro Barra do Ceará estão e estarão, sempre, na minha memória e coração. Meus pais ainda moram lá, e aquela casa, deles, ainda posso dizer que é minha.

Muitos amigos e vizinhos ainda permanecem no bairro onde nascemos, e que é ainda é nosso. Lá, dão continuidade às suas novas gerações. Se não temos mais tanta aproximação uns com os outros, por motivos diversos, já que os caminhos são seguidos em sentidos diferentes, uma certeza existe, a de que o respeito permanece.

Não queria esquecer de citar ninguém, quanto menos de algum detalhe importante da minha infância e juventude. Seria no mínimo injusto. São tão bons de serem recordados. Representam marcas na nossa vida, jamais apagadas.

O mundo dá suas voltas, ninguém pode negar. Caminhos são seguidos, como diferentes direções, por cada um de nós. Mas memórias existem para ajudarmos a recordar do nosso passado, mesmo que não seja garantia de uma boa lembrança, e não sendo, que sirva para entender que pode ter servido ou servir para dar uma volta por cima na vida.


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