quarta-feira, 25 de março de 2015

FOME E MISÉRIA NO INTERIOR DO MARANHÃO, DO BRASIL...



Por Carlos Delano Rebouças

Entre uma colherada e outra, em um pequeno prato de farinha, mal amolecido pela água suja de buracos escavados no solo seco do interior do Maranhão, crianças choram pedindo comida, enquanto políticos ignoram tanto sofrimento.

Terra seca que serve para brincar de pião ou bila, como diz aqui no Ceará, transforma-se em caderno para menina de 11 anos, desenhar uma boneca. Achas que se trata de brincadeira de criança? Não! Reflexos psicológicos de marcas de violência. Crianças estupradas por comida. É a fome e suas mazelas, frutos do egoísmo e da irresponsabilidade dos homens que se dizem públicos.

Mas a mãe de onze filhos, perguntada sobre as razões que a levaram a ter tantos filhos, ainda em idade reprodutora, diz que acha bonito ter muitos filhos, num largo sorriso que lhe faltam dentes, para morder os duros grãos de feijão, poucos, limitados, que ainda tem que dividir com suas crias.

Crianças que perdem a sua pureza, sua infância, já não conseguem sonhar, porque não têm inspirações para sonhar. Prevalece a vontade de comer nem que seja um prato de farinha com sal, e esperar que o pai volte para casa alguma caça, pelo menos um tatu, que no testemunho de um pobre pai sofredor, parece mais um boi do que um pequeno mamífero, diante da alegria de seus filhos.

Viva àqueles professores, que ainda conseguem tirar do seu mísero salário um pouco para comprar a merenda escolar de seus alunos. A prefeitura não repassa as verbas destinadas, e se os professores não comprarem a merenda, a mais simples que seja, muito mais por solidariedade, não há como mantê-los em sala de aula.

Pobre do Maranhão! Pobre do povo de tantas cidades, pequenas, que metade ou mais de sua população vive abaixo da linha de pobreza! Tem uma delas que se chama Belágua, e que água encanada nunca chegou. Luz? Muito menos. Dormem com os passarinhos e acordam com as galinhas que restam.

Mas sonhamos que um dia tudo isso possa mudar, e Que um dia, aquela mãe de onze filhos, sofredora, mal orientada, que espera o seu cartão do programa bolsa família há cinco anos, receba-o, das mãos de funcionários públicos, inescrupulosos; que um dia, políticos criem vergonha na cara e passem a trabalhar em prol da cidade que vos elegeu; e que um dia, Deus faça justiça, na certeza que a não falha.

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