Por Carlos Delano Rebouças
Entre
uma colherada e outra, em um pequeno prato de farinha, mal amolecido pela água
suja de buracos escavados no solo seco do interior do Maranhão, crianças choram
pedindo comida, enquanto políticos ignoram tanto sofrimento.
Terra
seca que serve para brincar de pião ou bila, como diz aqui no Ceará,
transforma-se em caderno para menina de 11 anos, desenhar uma boneca. Achas que
se trata de brincadeira de criança? Não! Reflexos psicológicos de marcas de
violência. Crianças estupradas por comida. É a fome e suas mazelas, frutos do
egoísmo e da irresponsabilidade dos homens que se dizem públicos.
Mas
a mãe de onze filhos, perguntada sobre as razões que a levaram a ter tantos
filhos, ainda em idade reprodutora, diz que acha bonito ter muitos filhos, num
largo sorriso que lhe faltam dentes, para morder os duros grãos de feijão,
poucos, limitados, que ainda tem que dividir com suas crias.
Crianças
que perdem a sua pureza, sua infância, já não conseguem sonhar, porque não têm
inspirações para sonhar. Prevalece a vontade de comer nem que seja um prato de
farinha com sal, e esperar que o pai volte para casa alguma caça, pelo menos um
tatu, que no testemunho de um pobre pai sofredor, parece mais um boi do que um
pequeno mamífero, diante da alegria de seus filhos.
Viva
àqueles professores, que ainda conseguem tirar do seu mísero salário um pouco
para comprar a merenda escolar de seus alunos. A prefeitura não repassa as
verbas destinadas, e se os professores não comprarem a merenda, a mais simples
que seja, muito mais por solidariedade, não há como mantê-los em sala de aula.
Pobre
do Maranhão! Pobre do povo de tantas cidades, pequenas, que metade ou mais de
sua população vive abaixo da linha de pobreza! Tem uma delas que se chama
Belágua, e que água encanada nunca chegou. Luz? Muito menos. Dormem com os
passarinhos e acordam com as galinhas que restam.
Mas
sonhamos que um dia tudo isso possa mudar, e Que um dia, aquela mãe de onze
filhos, sofredora, mal orientada, que espera o seu cartão do programa bolsa
família há cinco anos, receba-o, das mãos de funcionários públicos,
inescrupulosos; que um dia, políticos criem vergonha na cara e passem a
trabalhar em prol da cidade que vos elegeu; e que um dia, Deus faça justiça, na
certeza que a não falha.
Nenhum comentário:
Postar um comentário