Lembro-me muito bem, mesmo quase tendo feito parte
de minha infância, da telenovela global, O Bem Amado, que retratou tantos fatos
de uma realidade tão comum em tantas cidades do nosso Brasil, pela visão de
Dias Gomes, na fictícia Sucupira. Nela, que posteriormente, mais precisamente
em 2010, virou filme, podemos refletir sobre a verdadeira postura de tantos símbolos
da sociedade brasileira, com as mais diferentes posturas.
O Bem Amado mostrou mesmo de forma cômica, também
não tão diferente da realidade de hoje, o prefeito Odorico Paraguaçu administrando
a cidade como se fosso não somente o quintal a sua casa, mas a casa inteira. Engraçado,
o personagem do saudoso Paulo Gracindo até que arranca ainda hoje muitas
risadas, principalmente quando comparado aos administradores reais do nosso
país.
O vigário, com todas as características dos de
sempre, de tantas outras obras literárias, folhetins e até de um mundo real,
também é representado. Envolve-se completamente com a sociedade, frequentando intensamente
as casas dos fieis, comendo de tudo, sabendo da vida íntima de cada membro da
sociedade e sendo protagonista de escândalos tão semelhantes quanto aos que
observamos hoje.
O delegado típico de tantas obras, em O Bem Amado
não apareceu. Mas, fazer a justiça ser cumprida, ficou a cargo do personagem
Emiliano Medrado, o “Coronel” da cidade, que na realidade, cumpria todas as ordens
do prefeito Paraguaçu. Interesses comuns, pela conveniência, também retratada
nos dias de hoje.
A sociedade de Sucupira era muito eclética quanto
as suas crenças, opiniões, estilo de vida e comportamento. Personagens como
Dirceu Borboleta, as irmãs Cajazeiras, Tião Moleza, Mestre Ambrósio, dentre
tantos outros, representam tantos brasileiros, de tantas cidades brasileiras e
em diferentes culturas. Entretanto, o Zeca Diabo, interpretado pelo grande ator
Lima Duarte, tornou-se marcante pelas características singulares de um
personagem tão emblemático nesta obra da dramaturgia brasileira.
O bandido, temido pela sociedade, fiel de Padre
Cicero, engraçado, aterrorizou o povo de Sucupira. Levou medo aos mais
poderosos ou que se achavam poderosos. Fazia muitos perderem o sono só em
pensar em cruzar com ele na cidade e pensar em ser o primeiro a inaugurar o cemitério
da cidade.
Que saudade de bandidos assim, fictícios!
Hoje, não funciona assim. Os bandidos não nos
arrancam risos e sim, choro, lágrimas. Hoje, aliam-se também aos poderosos, ou
são os poderosos que se aliam a eles? Há quem diga que existe a categoria dos
poderosos bandidos. Alguém tem alguma dúvida?
O Bem Amado fez muito sucesso e ainda faz, principalmente
ao lembrarmos ou revermos seus episódios. Já os episódios da vida real merecem
ser esquecidos, quando os personagens reais, que representam pessoas públicas
mostram comportamento reprovável, entristecedor, digno de vilões de um mundo
cada vez mais injusto.
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