Poeta da escola barroca brasileira,
mas com fortíssimas influências europeias, Gregório de Matos, ou simplesmente ‘O
Boca do Inferno’, tornou-se emblemático pelas suas poesias de cunho lírico,
erótico e religioso, mas principalmente, satírico, em pleno século XVII.
O apelido foi atribuído em virtude
de não ter hesitado em construir suas obras, mesmo que tenham sido publicadas
depois de sua morte, sendo contundente, crítico, principalmente com a igreja,
mas também com os políticos e a sociedade da época, expondo em métrica e rima
todo o seu ponto de vista, que sempre causou um mal estar imenso a muita gente,
que consequentemente, levou-o a sofrer muitas represálias. Gregório até parecia
querer causar um reboliço na sociedade da época... Causou e causa, hoje, para
que conhece suas obras.
Hoje, o grande poeta certamente
teria bem mais inspirações para produzir suas poesias. Muitas seriam as
influências, não acham? Na religiosidade, por exemplo, pelos diversos escândalos
na igreja católica e a adoção da teologia da prosperidade nas diversas igrejas
protestantes espalhadas no nosso país. Na política, nem se fala. Nas três
esferas, e em toda parte do país, iria encontrar muita inspiração. Os políticos
são maravilhosos para os artistas.
Na sociedade, principalmente quando
se tem a influência política e religiosa, aí que seria um ‘prato cheio’ para o ‘Boca
do Inferno’ se esbaldar na construção de seus textos. Se não duvidarmos,
Gregório de Matos seria, hoje, vivo, quem sabe, bem menos contundente, e
evitaria tantas perseguições que sofrera, e tido vida longa, com mais saúde,
para usufruir de tantas inspirações, principalmente as pornográficas que
permeiam o mundo de hoje.
Brincadeirinha gente! Se hoje fosse
se comportar assim, não seria o Gregório de matos e morreríamos de saudade do
verdadeiro ‘Boca do Inferno’.
Mas será que temos muitos ‘Gregórios’ de Matos
no Brasil de hoje? Certamente que não. Pela coragem de falar, de escrever o que
pensa e de formar opinião, até pode ser. O brasileiro, enfim, consegue hoje ter
mais liberdade de ventilar seus pensamentos, suas ideologias. Entretanto, fazer
tudo isso de forma poética, em dois quartetos e dois tercetos, metricamente
ajustados, numa rima perfeita, e com uma beleza imensurável, é somente para um
poeta único, singular, que ficou marcado na nossa história literária.
Somente para Gregório de Matos.
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