Carlos Delano Rebouças
Quantas semelhanças existem entre a minha escola e um
circo. Esta é a conclusão que tirei desde que iniciei a minha trajetória
educacional na escola em que frequento, desde a minha infância. E lá se vão 15
anos de minha vida.
Quando comecei a estudar com os meus 03 anos de idade,
tardio para os padrões modernos da educação brasileira, confesso que não
recordo das tantas vezes que retornei a minha casa com o rosto pintado, mais
parecendo um palhaço.
Todas essas situações são contadas pela minha mãe, que na
época acreditava se tratar de bobagens, todavia, bem distante de seu
entendimento em aceitar que significava o desenvolvimento de habilidades,
pedagógicas, que ainda são muito aplicadas.
Como a pintura no corpo, além de em outros recursos de
expressão, dançávamos, brincávamos, ríamos muito um dos outros e
aproveitávamos, também, todos os equipamentos existentes na escola, para o
desenvolvimento mental e corporal.
A minha escola era maravilhosa e muito parecia com um
circo. Hoje, já estou com 18 anos, cursando o terceiro ano. Sou um
pré-vestibulando, prestes a entrar na faculdade. Aquelas tantas brincadeiras já
se perderam no passado, e hoje, as coisas são mais sérias, e não poderiam
deixar de ser. Entretanto, a imagem do circo insiste em não me sair da cabeça,
diante da também insistência dos gestores na sua continuidade.
Olho para a minha escola, enxergo um circo; entro na
minha sala de aula e mais parece um picadeiro; meus colegas de sala, infelizmente,
mais parecem animais que precisam ser adestrados, pela carência de educação e
compromisso com a mesma; o meu professor, coitado, feito palhaço, não somente
por nós, ou pelo menos pela nossa maioria, mas, muito mais, pela gestão pública
deste país, que prefere brincar com a educação a levá-la a sério.
E ainda temos que fazer acrobacias para encontrar o nosso
espaço na sociedade, diante de tanta concorrência. Somos inevitavelmente os
protagonistas deste espetáculo, que em nada redunda alegria, muito pelo
contrário, uma tristeza profunda, e que permite estragar a maquiagem dos
artistas circenses da vida, pela lágrima escorrida no rosto, numa
irresponsabilidade sem tamanho, a qual começa no pré-escolar, e sem momento
para terminar. É como se começasse dando o pirulito e terminasse em marmelada.
Infelizmente.
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