quarta-feira, 16 de setembro de 2015

PÃO ÁRABE COM FARINHA


Autor: Carlos Delano Rebouças

Recordo de uma situação cômica protagonizada pelo meu pai, um senhor de 78 anos bem vividos, nascido no interior do Ceará, Baturité, com hábitos e costumes de grande parte de sua vida, comuns de uma simplicidade, bem diferente dos dias de hoje. Situação esta que ainda me arranca risadas, mas que contarei adiante.

Mas falando sobre meu pai, o grande Hugo Pinheiro, já na sua maioridade, veio para Fortaleza, estudou, deu continuidade a sua vida profissional, casou-se e constituiu família. Passou a desenvolver hábitos dos habitantes típicos da capital, mas na verdade, não totalmente, ou seja, ainda carrega consigo costumes que jamais perderá até os seus últimos dias, e alguém duvida?

Não sai de casa sem o seu pente de bolso, pequeno, junto com sua identidade no bolso da frente da camisa, que teima em tê-lo. Com o seu radinho de pilhas, encostado ao travesseiro, dorme todas as noites, e olhe lá se alguém o tira ou desliga, que logo leva um carão. Os noticiários jornalísticos na TV, como no rádio, AM, fazem parte de sua rotina diária. Assim são seus hábitos e costumes, típicos e dignos de um cidadão interiorano.

Hoje as coisas são bem diferentes. As pessoas se transformam a cada instante e põem a culpa no progresso, na globalização. O brotinho virou gata. Festa agora é balada. E refeição virou um lanchinho rápido, para não se perder tempo. Tem-se tempo para tudo, exceto que seja para lembrar as raízes familiares.

Ninguém se senta mais com os avós para ouvir histórias de sua terra, que também são suas, pois foi lá que tudo começou. Ninguém tem mais paciência para ouvir ninguém, pois a tecnologia toma todo tempo possível e disponível, e quando há uma insistência em manter os costumes, logo são interrompidos, pois qualquer coisa se torna mais importante que bons momentos e boas recordações.

Alguém já ouviu o ditado que tem gente que sai do mato, mas o mato não sai dele? Pois é, meu querido pai um dia foi presenteado por este filho dedicado com um apetitoso sanduíche no pão árabe, destes bem diferentes dos tradicionais sanduíches que comia muito na minha adolescência, naqueles quase extintos trailers de lanches, que faziam sanduíches somente com pão bola ou forma, e comíamos com muito prazer, somente com maionese e catchup. Então, diante daquela guloseima a sua frente, pediu o prato a minha mãe e disse: “Traga a farinha”.

Risadas, demos, mas na verdade, desconhecendo o alimento, tratou de prepará-lo ao seu modo, adquirido ao longo de sua infância e adolescência. E que deem risadas e danem-se seus autores. O que importa é que seja um homem feliz. O pão árabe foi consumido, na íntegra, e se alguém ainda duvida de que se trata de um homem moderno, lida com computadores, tem E-mail, Twitter, Facebook, e se define como um homem em contínuo desenvolvimento, mas bem distante de abandonar determinados hábitos.


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