Autor: Carlos Delano Rebouças
Sinto
que vou morrer. Nunca senti isso antes, nem nos piores momentos de minha
desregrada vida, diante do meu exagerado consumo de álcool e de uma péssima
alimentação. Sinto de verdade que estou caminhando para a morte, depois dos
meus 80 anos.
Assim,
sente-se Leopoldo, não somente porque passou a sentir uma dorzinha aqui e outra
acolá no seu avantajado corpo de 164 quilos, nem mesmo pelos resultados de
tantas baterias de exames realizados ao longo dos últimos 10 anos de seus 50
anos de vida, mas sim, pela consciência de quem acredita que hoje a população
mundial, pelos mais diferentes hábitos, erra demasiadamente nos cuidados com
sua alimentação e no cuidado com sua saúde.
Leopoldo
sempre na sua juventude cuidou muito bem de seu corpo, praticando o seu esporte
favorito, que era o futebol e depois a cervejinha com um churrasquinho. Depois,
abandonou o futebol e ficou somente com os hábitos pós-jogo, com os amigos.
Leopoldo levou isso por longos anos, e, mesmo abandonando o futebol pelo
excesso de peso, jamais abandonou os amigos e os costumes desenvolvidos. Hoje,
visita os amigos somente depois das partidas de futebol, para o exercício do
prazer de beber e comer, e sorrir.
Há
quem diga que a vida de Leopoldo é boa. Sempre com um sorriso no rosto, cercado
de amigos, tomando uma cervejinha gelada e comendo seu churrasco,
religiosamente, sempre aos finais de semana. Como ele, mas sarados, sem aquela
notável barriga, muitos jovens, nas mais diferentes academias do mundo cuidam
do seu corpo, tornando-os magníficos aos olhos de quem os veem.
Muitos
desses jovens mantêm seus corpos esculturais com o consumo de suplementos e
drogas, como também, com uma dieta balanceada, com todos os nutrientes necessários,
em paralelo com atividades físicas pesadas, diárias. Porém, muitos dormem mal,
diante de hábitos noturnos, diversões, regadas pelo consumo de álcool, drogas e
de uma desequilibrada alimentação, bem diferente de sua rotina diurna. Vão do
céu ao inferno em 24 horas, e tanto o corpo, quanto a mente, reagem, buscando
respostas.
E
se a população mundial vive assim – nessa gangorra – por que cada vez mais tem
vida longa, vivendo mais, quando não tem a vida interrompida devido a outros
fatores?
Viver
mais não é sinônimo de viver com qualidade. Hoje se retarda mais a morte devido
à ciência e a medicina. Convivemos com a doença, com as dores por mais tempo,
até que se chega a um ponto, que não dar mais. Até que chega a morte.
Qualidade
de vida é um conjunto de situações harmoniosas, prazerosas, de levar a sua
estada aqui na terra, que envolve corpo e mente, mas não necessariamente
acontece com a busca de um corpo escultural ou mantendo bons hábitos
alimentares. Parece ser um segredo, mantido a sete chaves, que só se descobre
com a morte, e quando esta chega após muitos anos vividos.
Leopoldo
sente que vai morrer, sente que seu dia se aproxima, só não sente quando será,
pois certamente deseja que não seja em breve, pois não quer que nada venha a
atrapalhar a sua cervejinha, nem menos seu churrasquinho.
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