Por Carlos Delano Rebouças
Hoje
me lembrei de alguns programas de televisão, antigos, saudosos, que nos fazem
voltar no tempo, fazendo-nos resgatar velhos hábitos, como o de sorrir de
situações que não mais fazem parte do cotidiano das pessoas.
Os
Trapalhões era um deles. Não saíamos de casa nas noites de domingo, sem antes
assistirmos as trapalhadas de uma turma que nos faz sentir saudades.
Lembro-me
de um dos episódios, em que o Didi, Dedé, Mussum e Zacarias espiavam por um
furo em uma parede, uma bela moça fazendo troca de roupas. Tudo com muita
trapalhada, arrancando risos de todos, onde o nu não predominava, numa pureza
perdida na lembrança, e que a TV brasileira não mais apresenta.
Hoje
os furos nas paredes são outros. Em vez de brechas abertas com furadeiras e
pregos nas trapalhadas de Didi e sua turma, são câmeras espalhadas em todo
lugar, em toda parte, que tiram privacidades, muito mais que dão segurança, e
que atraem a curiosidades de pessoas, sem o mínimo de respeito e humor. Estamos
cada vez mais vigiados, monitorados, e expostos, aos mais diferentes
interesses.
Como
é fácil ter a privacidade invadida, e a imagem perpetuada e distorcida, hoje,
sem que se perceba, e sem que haja um furo sequer em sua parede!
Fácil
de entender. Enquanto Os Trapalhões faziam furos em parede ou bisbilhotavam em
brechas abertas no telhado da ficção, no mundo real, nós mesmos abrimos somos o
“cavalo de Troia” de nossa privacidade, de nossas intimidades, permitindo pelo
incontrolável desejo de aparecer, sobretudo, sem medir qualquer consequência,
que nossa vida seja completamente invadida. Somo algozes de nossa vergonha e de
reputação, e nem refletimos sobre a gravidade.
Mais
porque estamos agindo assim – com tanta carência de afirmação, de expressão –
ou se trata de estratégia para o encontro com o sucesso, sem ao menos, saber
defini-lo?
Fica
difícil de apresentar respostas. Na realidade, comportamo-nos com atores,
diretores, produtores e expectadores de tantas produções, as quais representam
comédias e tragédias, e que na visão da sociedade, transforma-se como um
camaleão, que muda de cor conforme a necessidade, em tragicomédias da vida.
Embora
não possamos negar a evolução dos tempos, da tecnologia e seus avanços, que
pelo menos, saibamos aproveitar a oportunidade de relembrar de fatos e costumes
de um passado, que não voltam mais. Programas como Os Trapalhões existiram e
servem para isso.
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