Por
Carlos Delano Rebouças
Um certo empresário não descansou em paz até a
sua morte, aos 103 anos, diante da preocupação sobre todo o seu patrimônio,
seus negócios, dinheiro e o destino que deveriam ter. Coitado, morreu sem ao menos
saber como foi seu funeral.
Muitos levam a vida inteira dessa forma, presos à
matéria, como se fizessem parte de seus corpos, como se fossem uma perna, um
braço, a cabeça, e até a orelha.
Falando em orelha, que as desse empresário não
era a das menores, mal couberam em seu caixão, luxuoso, em madeira de lei
trabalhada, e com alças e fechaduras douradas, chamou a atenção. Dizem que as
orelhas são partes do corpo humano que crescem até o fim da vida, e no caso
desse empresário, foram 103 anos de crescimento como a fortuna que imaginava
levar consigo em seu caixão.
Pobre empresário, que de rico, só a fortuna
acumulada, e sem ninguém para deixar, que o amasse de verdade, ou pelo menos, o
respeitasse como ser humano digno de uma lágrima a se derramar, na veracidade
de um sentimento.
Família não constituiu; Viveu grande parte de sua
vida, logo que perdeu cedo seus pais em um acidente, para cuidar da herança
deixada, tornando-se uma pessoa que via o dinheiro como a coisa mais importante
de sua vida. Somente funcionários,
poucos, aliás, contatos nos dedos de uma só mão, estiveram presentes, levados
pela sensatez e gratidão de acompanhar aquele que pelo menos pagou seus salários
durantes muitos anos. Somente por isso, e nada mais.
Porém, muitos se perguntavam. Para quem ou onde
foi a sua fortuna? Quem passou dominar todo o império construído por um homem,
sozinho e egoísta, e que jamais acreditou que seu fim poderia chegar?
Perguntas ainda sem respostas, mas todos tinham
uma certeza: a de que naquele caixão não havia espaço para levar tudo que
enxergou como mais importante na sua vida; que o fez passar por cima de tudo e
de todos, de forma impiedosa, desumana e injusta.
Assim deixou esse mundo. Foi-se um homem que
acreditava, sem ao menos declinar, que poderia levar em sua urna toda a sua
riqueza, material, num cofre, que cabem, única e exclusivamente, riquezas
espirituais.
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