Por Carlos Delano Rebouças
Diz
a cultura de diversos povos, entre eles o brasileiro, que tomar um chá ou um
cafezinho nos fins da tarde, como chamariz para reunir amigos e parentes, a fim
de colocar os assuntos em dia, é tradição e ninguém pode negar.
Nas
obras literárias, principalmente nos romances urbanos, seja “Machadianas” e
até, do nosso emblemático José de Alencar, ou quem sabe, nas novelas de época,
sempre observamos, ou entre linhas ou em diversas cenas, personagens e atores
contracenando situações prazerosas, que nos dias de hoje, na realidade, não se
faz mais, graças às redes sociais.
Tais
ilustrações nos fazem lembrar muitos episódios da vida. Uma vez, quando fomos
passar um final de semana no interior do Ceará, para rever parentes e amigos,
ouvimos lamentações de uma senhorinha:
“Que bom que vocês vieram. Já vou ter com quem
conversar no fim de tarde”.
Ao
perguntá-la o porquê de tanto alívio, respondeu:
“Esse
povo daqui de casa não conversa mais. Ficam todos nesta tal de Internet sem dar
um “pio”, só postando e vendo as postagens dos outros”.
Foi
assim, que podemos compreender as razões que levam aquela senhora a dormir tão
cedo, pois sem ninguém para conversar e para tomar o seu chazinho, prefere se
recolher ao seu casulo e descansar em paz, sozinha, sem ninguém para prosear.
Pobre
de nós, que estamos perdendo absolutamente o prazer de se relacionar com outras
pessoas, de conversar, de divertir-se com as histórias contadas, de trocar
experiências e de aprender com a convivência. Preferimos a exclusividade do
mundo virtual ao aproveitamento por inteiro da realidade, e não conseguindo
mais perceber os exageros. Sequer refletimos sobre a necessidade de mudar e
resgatar antigos hábitos tão saudáveis e salutares para o convívio social.
Essa
é a realidade do mundo moderno, que cada vez mais destrói as relações.
Infelizmente
não a visitamos com tanta frequência, para podermos sentar em sua calçada,
tomar aquele chá ou café com tapioca, milho verde e prosear até o anoitecer. São
antigos hábitos que não se podem praticar em muitas cidades do estado do Ceará
e porque não, do nosso país.
Que bom que os nossos celulares perdem
totalmente o sinal de Internet quando chegamos a muitas cidades do nosso Ceará.
Só assim, podemos resgatar parte destes costumes, mesmo que passageiro, que
outrora representava muito para esse povo tão sofrido, e que a tecnologia trata
de apagar de nossas memórias.
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