domingo, 26 de abril de 2015

E AGORA, O QUE FAZER COM O MEU POTE?


Por Carlos Delano Rebouças

Meu saudoso avô, Alcindo Rebouças, que Deus o tenha na sua morada, dizia: “Não troco a água que bebo do meu pote por nenhuma outra de geladeira alguma”. Essa era a sua certeza, e hei de alguém se viesse a duvidar se estava certo.

O pote sempre era mantido na entrada da cozinha, coberto com um pano, e sobre ele, uma caneca de alumínio, daquelas que acreditamos deixar a água mais fresquinha para o consumo.

Mas meu avô Alcindo faleceu, e há alguns anos aquele seu valoroso pote não mais faz parte da ornamentação da cozinha de sua casa. Ficou no passado, junto com a lembrança que temos de tantos momentos felizes ao lado do grande Alcindo Rebouças.

Como o meu avô, tantos outros nordestinos ainda fazem uso de um pote de água para matar a sua sede. Alguns, infelizmente, pela falta de energia elétrica ou de um refrigerador. Ainda existem tantos lugares neste Brasil de meu Deus sem acesso à energia elétrica. Quantos outros, milhares, aliás, milhões de brasileiros, vivem numa extrema miséria sem poder possuir um refrigerador que possa conservar seus poucos alimentos e gelar a sua água?

Na verdade, existem aqueles que resistem, como o meu avô Alcindo, ao uso do eletrodoméstico, sem dúvida, como também, por uma preferência, que parece que não demora muito a se extinguir na cultura do cearense, sobretudo, na do nordestino sofrido, pela estiagem que assola a região há tanto tempo.

O pote vai ficando somente como um enfeite numa cozinha. Água para enchê-lo, torna-se cada vez mais escasso nos rios e reservatórios deste país. Sequer teremos água, nos próximos anos, para mover turbinas das hidrelétricas geradoras de energia, esta, que faz funcionar equipamentos, como o refrigerador, que meu avô Alcindo preferiu abdicar ao longo de toda a sua vida.

E o que fazer com o pote de água da casa de muitos nordestinos, abandoná-lo como está sendo feito com seus sonhos? Quebrá-lo e esquecê-lo que fez parte de sua rotina? Ou devemos esperar que um dia águas voltem a cair dos céus, carentes de nuvens carregadas, ou esperar que o homem abandone a sua mediocridade e seu egoísmo, e trate de usar a sua inteligência em favor do semelhante e da natureza?

Por enquanto, felizmente carrego na memória os bons momentos vividos ao lado do meu avô, Alcindo Rebouças, de tantas histórias, de sua alegria e de sua humildade. Seu pote de água pote não mais existir, mas sua lembrança é eterna, e espero que assim seja por muito tempo.

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