Por Carlos Delano Rebouças
Meu saudoso avô, Alcindo Rebouças, que Deus o tenha na sua morada, dizia:
“Não troco a água que bebo do meu pote por nenhuma outra de geladeira alguma”.
Essa era a sua certeza, e hei de alguém se viesse a duvidar se estava certo.
O pote sempre era mantido na entrada da cozinha, coberto com um pano, e
sobre ele, uma caneca de alumínio, daquelas que acreditamos deixar a água mais
fresquinha para o consumo.
Mas meu avô Alcindo faleceu, e há alguns anos aquele seu valoroso pote
não mais faz parte da ornamentação da cozinha de sua casa. Ficou no passado,
junto com a lembrança que temos de tantos momentos felizes ao lado do grande
Alcindo Rebouças.
Como o meu avô, tantos outros nordestinos ainda fazem uso de um pote de
água para matar a sua sede. Alguns, infelizmente, pela falta de energia
elétrica ou de um refrigerador. Ainda existem tantos lugares neste Brasil de
meu Deus sem acesso à energia elétrica. Quantos outros, milhares, aliás,
milhões de brasileiros, vivem numa extrema miséria sem poder possuir um refrigerador
que possa conservar seus poucos alimentos e gelar a sua água?
Na verdade, existem aqueles que resistem, como o meu avô Alcindo, ao uso
do eletrodoméstico, sem dúvida, como também, por uma preferência, que parece
que não demora muito a se extinguir na cultura do cearense, sobretudo, na do
nordestino sofrido, pela estiagem que assola a região há tanto tempo.
O pote vai ficando somente como um enfeite numa cozinha. Água para
enchê-lo, torna-se cada vez mais escasso nos rios e reservatórios deste país. Sequer
teremos água, nos próximos anos, para mover turbinas das hidrelétricas
geradoras de energia, esta, que faz funcionar equipamentos, como o
refrigerador, que meu avô Alcindo preferiu abdicar ao longo de toda a sua vida.
E o que fazer com o pote de água da casa de muitos nordestinos,
abandoná-lo como está sendo feito com seus sonhos? Quebrá-lo e esquecê-lo que
fez parte de sua rotina? Ou devemos esperar que um dia águas voltem a cair dos
céus, carentes de nuvens carregadas, ou esperar que o homem abandone a sua
mediocridade e seu egoísmo, e trate de usar a sua inteligência em favor do
semelhante e da natureza?
Por enquanto, felizmente carrego na memória os bons momentos vividos ao
lado do meu avô, Alcindo Rebouças, de tantas histórias, de sua alegria e de sua
humildade. Seu pote de água pote não mais existir, mas sua lembrança é eterna,
e espero que assim seja por muito tempo.
Nenhum comentário:
Postar um comentário