A
partir da segunda metade da década de 90, uma série de transformações
estruturais e institucionais criou um novo ambiente econômico para a indústria
brasileira de petróleo. O incremento esperado na participação de novos
operadores no upstream e no downstream motivou a realização de um estudo
prospectivo e analítico com o objetivo de quantificar o poder de encadeamento
da expansão da indústria do petróleo sobre a produção de bens e serviços na
economia brasileira. A pesquisa, contratada pela ONIP junto ao IE/UFRJ,
realizada sob a coordenação do prof. David Kupfer, contou com o patrocínio do
CTPETRO/FINEP.
Através
do uso de técnicas de insumo-produto foram avaliados os impactos os diretos e
indiretos (modelo aberto) e o efeito-renda (modelo fechado) do investimento em
exploração, produção e refino de petróleo sobre o valor da produção, geração de
renda e de emprego, arrecadação tributária e balança comercial. Para a
realização das estimativas foi utilizada a matriz de insumo-produto do IBGE
para 1996, a
mais recente disponível.
- VETOR INVESTIMENTO
O
ponto de partida do estudo foi a construção do vetor investimento de forma
compatível com sua utilização no modelo insumo-produto. Para a realização dos
cálculos, foram adotadas as seguintes hipóteses, correspondentes aos valores
médios anuais verificados no último quinqüênio e de acordo com as previsões da
Petrobras para os próximos anos:
i.
investimento no
setor petróleo de US$ 5 bilhões/ano, dos quais US$ 3,7 bilhões relacionados à
exploração, produção e refino (74% do total) e
ii.
aumento anual de
5% da produção doméstica de petróleo, acarretando igual redução no valor das
importações desse produto.
As
estimativas realizadas apontaram os seguintes setores como principais
fornecedores para os investimentos previstos:
- peças e outros veículos (embarcações, peças e acessórios) com participação de 27,3% no investimento total;
- petróleo e gás (perfuração, perfilagem e cimentação de poços) com 17,2%;
- serviços prestados às empresas (levantamento geofísico, serviços técnicos especializados) com 14,9%;
- máquinas e equipamentos (serviços de instalação industrial, turbinas, turbo compressores, árvore de natal molhada) com 14,4%;
- material elétrico (geradores, linhas flexíveis, cabos elétricos) com 6,5%;
- siderurgia (tubos e perfis de aço) com 5,7% e
- construção civil com 5,6%.
Foram
então consideradas duas alternativas para a participação de fornecedores locais
no atendimento da demanda gerada pelo investimento no setor petróleo:
- Situação Atual – corresponde a coeficientes de importação que buscam refletir a situação atual da competitividade dos fornecedores locais (média global de 54% de fornecimento no país).
- Situação Potencial – situação de referência na qual se pressupõe que os bens e serviços demandados pela expansão do setor petróleo sejam supridos inteiramente (100%) por fornecedores locais (importações nulas).
- IMPACTOS INDUZIDOS TOTAIS (diretos indiretos e efeito-renda)
As
estimativas realizadas conduziram a números bastante significativos (expostos
na Tabela 1) quanto aos impactos induzidos pelos investimentos na indústria do
petróleo.
Segundo
o modelo aberto, que calcula somente os impactos diretos e indiretos, foi
possível concluir que, na situação atual, o investimento de US$ 3,7 bilhões
geraria val or semelhante (relação 1:1) em termos de valor da produção local
(US$3,8 bilhões), cerca de 15% desse valor em arrecadação de tributos e cerca
de 95.000 postos de trabalho. Com relação à renda gerada, pode-se esperar um acréscimo
de cerca de 0,3% do PIB anual brasileiro. Finalmente, o investimento implicaria
numa saída de divisas da ordem de US$ 1,35 bilhões em importações de bens e
serviços.
Já
na situação potencial (100% de fornecimento no país), esse mesmo investimento
geraria mais de US$ 7 bilhões em valor da produção local, levando a relação
valor investido/valor de produção gerado para cerca de 1:2. Também o efeito
sobre o emprego seria significativamente maior, aumentando para cerca de
155.000 postos de trabalho.
A
arrecadação tributária seria ligeiramente superior (17%), enquanto o efeito
sobre o crescimento do PIB seria da ordem de 0,6%. A balança comercial
registraria um pequeno superavit (US$ 30 milhões).
No
modelo fechado, que calcula impactos diretos e indiretos e o efeito-renda,
todas as variáveis analisadas são mais impactadas, devido aos efeitos
multiplicadores de renda. Por exemplo, considerando-se a situação atual, para
cada unidade de valor investido são gerados 1,26 no país. No que se refere ao
valor da produção e à renda, os impactos tanto na situação atual quanto
potencial são quase 25% maiores que os encontrados no modelo aberto. No
entanto, o aumento do emprego gerado (cerca de 50% nas duas situações) é mais
que proporcional ao aumento da produção e da renda, em função do maior peso da
demanda por bens e serviços para consumo corrente, mais intensivos em trabalho
e mais atingidos pela estrutura de tributação. Incluindo-se o efeito-renda, os
números são bem evidentes: na situação atual, a geração de empregos atingiria
mais de 137.000 postos de trabalho e o crescimento do PIB seria de cerca de
0,4%, enquanto na situação potencial, seriam criados 234.000 empregos e a
geração de renda seria superior a 0,7% do PIB.
TABELA
1: PRINCIPAIS RESULTADOS DAS SIMULAÇÕES
(US$ MILHÕES) |
||||||
|
IMPACTO TOTAL DIRETO E
INDIRETO
|
IMPACTO TOTAL DIRETO,
INDIRETO
E EFEITO RENDA |
||||
|
Atual
|
Potencial
|
Potencial
/Atual |
Atual
|
Potencial
|
Potencial
/Atual |
Valor
Produção
|
3.823
|
7.017
|
1,84
|
4.675
|
8.579
|
1,84
|
Impostos
|
573
|
668
|
1,17
|
663
|
833
|
1,26
|
Importação
|
1.348
|
-30
|
-
|
1.394
|
55
|
-
|
Renda
|
1.920
|
3.308
|
1,72
|
2.384
|
4.159
|
1,74
|
Emprego
(no. vagas)
|
95.234
|
156.922
|
1,65
|
137.425
|
234.295
|
1,70
|
Fonte:
Instituto de Economia da UFRJ.
Ao
avaliar os impactos sobre a economia brasileira dos investimentos na indústria
de petróleo o estudo dá um primeiro passo na direção do desenvolvimento de
instrumentos adequados para a avaliação e planejamento do processo de expansão
da indústria do petróleo no seu novo contexto institucional. Pretende assim a
ONIP contribuir com a formulação de políticas econômicas e industriais, gerando
informações e conhecimentos que conduzam à maximização dos efeitos econômicos e
sociais dos investimentos em petróleo no país.
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