sexta-feira, 27 de setembro de 2013

Impactos Econômicos da Expansão da Indústria do Petróleo




A partir da segunda metade da década de 90, uma série de transformações estruturais e institucionais criou um novo ambiente econômico para a indústria brasileira de petróleo. O incremento esperado na participação de novos operadores no upstream e no downstream motivou a realização de um estudo prospectivo e analítico com o objetivo de quantificar o poder de encadeamento da expansão da indústria do petróleo sobre a produção de bens e serviços na economia brasileira. A pesquisa, contratada pela ONIP junto ao IE/UFRJ, realizada sob a coordenação do prof. David Kupfer, contou com o patrocínio do CTPETRO/FINEP.
Através do uso de técnicas de insumo-produto foram avaliados os impactos os diretos e indiretos (modelo aberto) e o efeito-renda (modelo fechado) do investimento em exploração, produção e refino de petróleo sobre o valor da produção, geração de renda e de emprego, arrecadação tributária e balança comercial. Para a realização das estimativas foi utilizada a matriz de insumo-produto do IBGE para 1996, a mais recente disponível.
  • VETOR INVESTIMENTO
O ponto de partida do estudo foi a construção do vetor investimento de forma compatível com sua utilização no modelo insumo-produto. Para a realização dos cálculos, foram adotadas as seguintes hipóteses, correspondentes aos valores médios anuais verificados no último quinqüênio e de acordo com as previsões da Petrobras para os próximos anos:
     i.            investimento no setor petróleo de US$ 5 bilhões/ano, dos quais US$ 3,7 bilhões relacionados à exploração, produção e refino (74% do total) e
 ii.            aumento anual de 5% da produção doméstica de petróleo, acarretando igual redução no valor das importações desse produto.
As estimativas realizadas apontaram os seguintes setores como principais fornecedores para os investimentos previstos:
  • peças e outros veículos (embarcações, peças e acessórios) com participação de 27,3% no investimento total;
  • petróleo e gás (perfuração, perfilagem e cimentação de poços) com 17,2%;
  • serviços prestados às empresas (levantamento geofísico, serviços técnicos especializados) com 14,9%;
  • máquinas e equipamentos (serviços de instalação industrial, turbinas, turbo compressores, árvore de natal molhada) com 14,4%;
  • material elétrico (geradores, linhas flexíveis, cabos elétricos) com 6,5%;
  • siderurgia (tubos e perfis de aço) com 5,7% e
  • construção civil com 5,6%.
Foram então consideradas duas alternativas para a participação de fornecedores locais no atendimento da demanda gerada pelo investimento no setor petróleo:
  • Situação Atual – corresponde a coeficientes de importação que buscam refletir a situação atual da competitividade dos fornecedores locais (média global de 54% de fornecimento no país).
  • Situação Potencial – situação de referência na qual se pressupõe que os bens e serviços demandados pela expansão do setor petróleo sejam supridos inteiramente (100%) por fornecedores locais (importações nulas).
  • IMPACTOS INDUZIDOS TOTAIS (diretos indiretos e efeito-renda)
As estimativas realizadas conduziram a números bastante significativos (expostos na Tabela 1) quanto aos impactos induzidos pelos investimentos na indústria do petróleo.
Segundo o modelo aberto, que calcula somente os impactos diretos e indiretos, foi possível concluir que, na situação atual, o investimento de US$ 3,7 bilhões geraria val or semelhante (relação 1:1) em termos de valor da produção local (US$3,8 bilhões), cerca de 15% desse valor em arrecadação de tributos e cerca de 95.000 postos de trabalho. Com relação à renda gerada, pode-se esperar um acréscimo de cerca de 0,3% do PIB anual brasileiro. Finalmente, o investimento implicaria numa saída de divisas da ordem de US$ 1,35 bilhões em importações de bens e serviços.
Já na situação potencial (100% de fornecimento no país), esse mesmo investimento geraria mais de US$ 7 bilhões em valor da produção local, levando a relação valor investido/valor de produção gerado para cerca de 1:2. Também o efeito sobre o emprego seria significativamente maior, aumentando para cerca de 155.000 postos de trabalho.
A arrecadação tributária seria ligeiramente superior (17%), enquanto o efeito sobre o crescimento do PIB seria da ordem de 0,6%. A balança comercial registraria um pequeno superavit (US$ 30 milhões).
No modelo fechado, que calcula impactos diretos e indiretos e o efeito-renda, todas as variáveis analisadas são mais impactadas, devido aos efeitos multiplicadores de renda. Por exemplo, considerando-se a situação atual, para cada unidade de valor investido são gerados 1,26 no país. No que se refere ao valor da produção e à renda, os impactos tanto na situação atual quanto potencial são quase 25% maiores que os encontrados no modelo aberto. No entanto, o aumento do emprego gerado (cerca de 50% nas duas situações) é mais que proporcional ao aumento da produção e da renda, em função do maior peso da demanda por bens e serviços para consumo corrente, mais intensivos em trabalho e mais atingidos pela estrutura de tributação. Incluindo-se o efeito-renda, os números são bem evidentes: na situação atual, a geração de empregos atingiria mais de 137.000 postos de trabalho e o crescimento do PIB seria de cerca de 0,4%, enquanto na situação potencial, seriam criados 234.000 empregos e a geração de renda seria superior a 0,7% do PIB.
TABELA 1: PRINCIPAIS RESULTADOS DAS SIMULAÇÕES
(US$ MILHÕES)
 
IMPACTO TOTAL DIRETO E INDIRETO
IMPACTO TOTAL DIRETO, INDIRETO
E EFEITO RENDA

Atual
Potencial
Potencial
/Atual
Atual
Potencial
Potencial
/Atual
Valor Produção
3.823
7.017
1,84
4.675
8.579
1,84
Impostos
573
668
1,17
663
833
1,26
Importação
1.348
-30
-
1.394
55
-
Renda
1.920
3.308
1,72
2.384
4.159
1,74
Emprego (no. vagas)
95.234
156.922
1,65
137.425
234.295
1,70
Fonte: Instituto de Economia da UFRJ.

Ao avaliar os impactos sobre a economia brasileira dos investimentos na indústria de petróleo o estudo dá um primeiro passo na direção do desenvolvimento de instrumentos adequados para a avaliação e planejamento do processo de expansão da indústria do petróleo no seu novo contexto institucional. Pretende assim a ONIP contribuir com a formulação de políticas econômicas e industriais, gerando informações e conhecimentos que conduzam à maximização dos efeitos econômicos e sociais dos investimentos em petróleo no país.

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