Barbosa de Freitas - Nosso poeta condoreiro
Quando o Prefeito Luíz Ayres de Alencar, construiu a praça Barbosa de Freitas, em 1934, sabia o que estava fazendo ao colocar naquele logradouro público o nome do maior jardinense de todos os tempos.
Barbosa de Freitas viveu apenas 23 anos, passando o maior tempo de sua vida bêbado nos bares de Fortaleza, mas apesar disto, foi considerado pela crítica especializada como o maior e o único poeta condoreiro do Ceará, merecendo estudos de autoridades como o Barão de Studart, Raimundo Girão, Modesto Cabral, entre outros.
Barbosa de Freitas trouxe consigo a marca dos gênios, com a precariedade, a excentricidade e a irresponsabilidade, fazendo versos desde os 16 anos, levando vida dissoluta em um anarquismo romântico que logo o levou à tuberculose.
Vejamos um pouco da vida deste notável vate cognominado de “O Castro Alves cearense”. Antônio Barbosa de Freitas nasceu em Jardim, no Sítio Lameirão, no dia 22 de janeiro de 1860. Era filho natural de Maria Barbosa com o rábula Antônio Nogueira de Carvalho.
Indesejado, foi logo cedo relegado ao desprezo, sendo criado pelos avós, já que o pai não assumiu a sua paternidade. Por esse motivo que depravou-se na bebida.
Foi praticamente adotado pelo juíz de Jardim, Dr. Américo Militão de Freitas Guimarães, que lhe deu até o nome da sua família, levando-o consigo quando transferido para Maranguape, matriculando-o no Seminário de Fortaleza, com 13 anos de idade. Deixando o seminário, Barbosa de Freitas trouxe de lá a única base intelectual que o acompanhou na sua meteórica vida de boemia e desregramento em tudo, demonstrando nos seus versos quão proveitosa foi sua curta permanência no Seminário de Fortaleza onde conheceu os clássicos.
“É sobre o dorso deste mar bravio
Que eu peregrino sem futuro e norte
Talvez me abrace a este anjo pálido
Fantasma ou sonho que se chama morte”
Discriminado desde o berço Barbosa de Freitas teve sua curta vida cercada de infortúnio e certamente malsinada pelo complexo da rejeição que procurou esquecer no alcoolismo, mas sua genialidade poética era tal que ainda hoje é objeto de estudos.
Viveu pouco, mas viveu intensamente, fechando os olhos para sempre em um dos leitos da Santa Casa de Misericórdia de Fortaleza, por hemoptise tuberculosa no dia 24 de janeiro de 1883.
Apesar de sua efêmera vida, mereceu figurar no “Dicionário Bibliográfico Cearense”, do competente e reto Barão de Studart, afora apreciações do renomado crítico professor José Valdo Ribeiro Ramos e do escritor Antônio Sales que jamais se ocuparia de gente sem valor.
Parte dos versos de Barbosa de Freitas foi feito de improviso em lupanares ou mesas de bar, às vezes escritos em papel de embrulho, outras vezes copiados por colegas de bebedeira e o próprio Barão de Studart que o viu escrevendo os versos do livro “Dom Juan Cacique” tendo como mesa uma barrica de bacalhau em um armazém de Fortaleza.
Perduláripo, triste, infeliz, apesar de tudo, o grande vate jardinense foi biografado por Otacílo Colares em “Lembrados e Esquecidos” e por Angela Barros Leal em “ A História do Ceará passa por Esta Rua 2”, provando o seu valor e o lugar que ocupa na literatura cearense.
Berm diz Modesto Cabral: “Barbosa de Freitas foi a máxima representação da inteligência poética”. Ouçamo-lo para conferir:
“Amigas, engamos todos,
um bravo que voe ao cé!
Pois que nas aras da pátria
A caridade se ergueu.
Sim, que aos pobres desvalidos
Filhos dos homens caídos
Da erupção no furor
Rosas fecundas perdidas
São neste instante colhidas
pela mão de um protetor.
Mais um retalho de poesia de Barbosa de Freitas
Manda o destino que me aperte e cedo
destes primores que te dera Deus
É tarde, é tarde! Meus amigos parto
Adeus morenas azulados céus
Adeus ó fontes, meus floridos prados
Ai borboleta do meu Cariri
Ai minha mãe querida, a minha doce estrela
Modesta tenda, Jardim onde nasci.
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