quarta-feira, 5 de agosto de 2015

AS BICICLETAS DE ALCENI GUERRA


Por Carlos Delano Rebouças

Andando pelas ruas de Fortaleza e de outros centros do país, o que mais vemos são bicicletas, bicicletários, faixas exclusivas e muita confusão. Esta, diante da implantação de uma cultura na nossa sociedade, que saltou para os veículos autopropulsados, mas que na verdade ainda era para esta morando em cavernas e movimentando-se pela tração animal.

Como é bonito ver Amsterdam e seu intenso fluxo de bicicletas. Pequim? Nem se fala. Brasil, oh! Passaram por cima do ciclista na sua faixa ou levaram a sua vida e sua bicicleta num assalto. Olha a faca!

Mas a bicicleta sempre fez parte da vida dos brasileiros. Tanto que me fez voltar no tempo e lembrar-me do marcante caso do superfaturamento na compra de bicicletas pelo Ministério da Saúde, no governo do presidente Fernando Collor, que envolveu o até então Ministro Alceni Guerra.

Guerra contra a cólera no Nordeste. Um trocadilho levando em conta seu sobrenome fez o ex-ministro protagonizar um dos mais bizarros casos de corrupção já visto na história de um país construído de escândalos. Imaginem agentes de saúde de mochila nas costas, segurando em uma das mãos um guarda-chuva, sobre uma bicicleta, rodando cidades e zona rural no combate à cólera. Assim aconteceu, porém, com bicicletas e todo o kit adquiridos por um custo elevadíssimo, que quase ou nunca foram usados, e que na verdade, não tinha segurança, quanto menos, lógica alguma implantar esse projeto.

Como no Brasil sempre quase tudo terminava em pizza, Alceni Guerra e seu “caso das bicicletas” não deu em nada, tendo rapidamente a sua absolvição.

Não perguntem onde foram parar as 500 bicicletas compradas, além dos guarda-chuvas e mochilas, que respostas o povo brasileiro nunca teve e nem tem mais. Aliás, muitos sequer lembram esse caso, como tantos outros que caem no esquecimento ao longo do tempo, principalmente quando conta com uma mídia que intensifica somente o que é de seu interesse.

Quem sabe, as bicicletas de Alceni Guerra não foram reformadas ao longo desses vinte e poucos anos, e viraram as bicicletas das prefeituras de tantas cidades, que insistem em mudar a cultura de um povo que não demonstra ter cultura ainda para isso.



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