sexta-feira, 19 de junho de 2015

PÁGINA VIRADA


Por Carlos Delano Rebouças

Quantas vezes nos perguntamos, com tantos porquês em buscas de respostas, para tantas coisas que acontecem em nossas vidas?

Por que foi comigo? Por que tinha que acontecer logo agora? O que eu fiz para merecer isso ou tudo isso, levando em conta a medida da dose de sofrimento, que acredita passar?

Perguntas que nem sempre tem respostas convincentes, sobretudo, diante de toda uma fragilidade emocional que toma conta do ser, e que até poderia ser aos olhos dos mais sensatos. Pena que a sensatez nem sempre reside na mente dos fracos.

Toda a dor passa, ou quem sabe, ameniza-se e administra-se com o tempo, como uma atitude sábia de levar uma vida sem tantos sofrimentos, buscando uma convivência melhor em família e sociedade, como aquele velho pensamento de que a página deve ser virada.

Um livro quando lido, na íntegra, é sinal que desde seu prefácio, chamou-lhe a atenção ou permitiu a descoberta do interessante, dando-lhe prazer de concluí-lo e guardá-lo em sua memória. Fica na mente e no coração marcas, a cada página virada, a cada descoberta folheada, com se fosse cada etapa de nossa vida, curtida prazerosamente.

Não é bem assim que podemos tratar a vida, comparando com uma leitura, virando páginas... Ou seria?

Quando as experiências são vividas, precisamente as ruins, não são facilmente apagadas de nossas memórias. Elas ficam, permanecem residentes fixas de uma lembrança que insiste em ficar, como um invasor, que acredita que aquele lugar é seu e ninguém o tira. Acabam servindo como um aprendizado, daqueles que puxam nossas orelhas quando decidimos alguma coisa, quando tomamos alguma atitude, ou quem sabe, quando agimos, somente, pois as consequências chegam, inevitavelmente.

Precisamos entender, aceitando em absoluto, que para tudo tem consequências, boas ou ruins, e que ambas servem para uma mudança, para uma transformação. Se hoje é semente, amanhã será o pão, alimentando a muitos que acreditam na sua importância. Porém, de repente, inesperadamente, e até, inevitavelmente, tudo se acaba, passa. Encerra-se um ciclo que nem sempre tem justiça feita sobre tudo que representou, nem mesmo, no legado deixado. Página virada sem contestações.

Preterir ou preferir são duas escolhas. Ficamos e estamos sempre nas duas posições de atores, ou seja, ora preferindo, ora preterindo. Considerá-las ou avaliá-las como justas ou não, nem sempre vale a pena, sob o interesse de uma reversão de atitudes, pois as páginas são lidas, viradas, e suas marcas deixadas, sem nenhum desejo de releitura.

Não olhemos como mocinho ou vilão, numa visão absolutamente maniqueísta, que não é. São escolhas e/ou decisões que devem ou precisam ser tomadas, e que sempre tem suas consequências.

Que viremos, então, tantas páginas.






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