Por
Carlos Delano Rebouças
Observando a rotina da vida de Ignácio, humilde
rapaz no início de sua juventude e sedento de construir a sua carreira
profissional como sempre sonhou, deu para perceber o quanto anda angustiado em
meter as mãos nos bolsos de suas calças, e só encontrar um fundo vazio, sem uma
moeda sequer, fato que o faz acreditar que trabalhando, poderia está livre
dessa situação incômoda que lhe perturba e tira-lhe o sossego.
Frequenta a escola, porém, Ignácio somente faz
isso e nada mais. Ainda na conclusão do ensino fundamental, estudar que é bom e
acreditamos ser salutar, para ele, algo desprezível. Sai para a escola todas as noites, pensando
somente na sopa de jabá que lhe espera na cantina da escola, em meio ao
bate-papo com amigos e paqueras, ficando os livros, com a sua leitura, e a
atenção às aulas, em segundo, terceiro ou quem sabe, em plano algum.
Ele só pensa
em trabalhar e ganhar muito dinheiro, mas em adquirir conhecimentos, não tem
importância alguma para aquele jovem rapaz.
Um dia indagado por uma vizinha, Dona Sebastiana,
em relação se ficava incomodado de não trabalhar e em que ou quem depositava
culpa, sem titubear, respondeu: “A culpa é do capeta, que me atrapalha!”.
Pobre do diabo, que leva tanta culpa do fracasso
de tantas pessoas, as quais, sequer se esforçam para tornar suas vidas
melhores!
Mais calmo e sereno, o jovem Ignácio se abre com
a respeitosa vizinha, que ficou, e não poderia ter sido o contrário, assustada,
diante de uma resposta tão revoltada. Conta-lhe, agora aos prantos, que a vida
ainda não lhe sorrira como desejava; que nada vem dando certo para ele, há
tempos; e que achava que Deus não quer lhe permitir uma estada na terra tão
tranquila financeiramente, como sempre sonhou.
Pelo que percebeu aquela amável e compreensível e
vizinha, que viu aquele jovem de 18 anos, nascer e se criar, e que hoje,
sente-se angustiado pela falta de dinheiro, emprego e aceitação social, não
somente levou injustamente a culpa, o diabo, como também, a vida, e até mesmo,
o nosso Criador.
Que a culpa recaia somente em cima do diabo, que nem
nos importaria, por se tratar de um ser, de uma entidade repugnante e
desprezível, que pela vida, digna de amor e paz, nada contribui, muito pelo
contrário. Mas a culpa depositada no destino de nossas vidas e em Deus parece
até um absurdo, sobretudo, exagero, todavia, perdoável aos olhos de Deus e
compreensível aos olhos do homem.
Que atire a primeira pedra quem jamais se
revoltou diante de uma situação difícil, complicada, que parecia insolúvel?
Sem dúvida alguma que muitos de nós já vivemos
situações aparentemente desfavoráveis, porém, com sabedoria e bom senso, e
acima de tudo, com justiça, contornamos, na certeza de que colhemos aquilo que
plantamos, somente, e que as consequências, de nossos atos, respingam não só em
nossas vidas, como também, na vida de outros, que às vezes, culpa alguma tem a
assumir.
Ignácio finalizou a conversa, longa e proveitosa
com sua vizinha, Dona Sebastiana, cheio de esperanças de uma vida melhor dali
para frente. Entendeu que não podia justificar seus fracassos na vontade de
Deus, nem na vida que lhe foi concedida, muito menos, no “pobre” diabo, que já
carrega na bagagem muitas culpas atribuídas.