por Carlos
Delano Rebouças
Desde a minha época de faculdade, aquele
outro nível de formação que achava ser totalmente diferente do antigo segundo
grau de que me despedia, ainda busco entender como se desenha o perfil do
estudante do ensino superior, que acreditava não ser da forma como imaginava.
Já se passam 25 anos de minha entrada na
faculdade de Letras da Universidade Estadual do Ceará, e posterior formatura em
cinco anos decorridos, e ainda vejo nas ruas e nas faculdades e em seus
arredores muitos estudantes com o mesmo padrão de minha época: despojados, de
cabelos e barbas longas; vestidos de camisetas com frases de efeito e imagens
de revolucionários; ou mesmo, aparentemente de acordo como a sociedade exige,
porém, com um pensamento muito distante do que se pensam aqueles que não
defendem a liberdade de expressão para a construção de um país mais
democrático. São figuras que se perpetuam no tempo, representando uma massa de
estudantes que se enxergam diferentes, com uma maneira diferente de enxergar o
mundo.
No ambiente universitário, enxergar e
enxerga-se diferente era muito mais que uma escolha; era acreditar que
representava um lugar onde o seu direito mostrava a sua verdadeira face, não
como um deturpador de valores, mas de um ser que luta pela liberdade de se
construir e dividir ideais, de forma democrática e consciente, por meio de
discussões, alheios a qualquer tipo de preconceito ou infelizes definições. Era
a certeza de que se tratava de um universo de pensamentos em um só lugar,
passivos de serem compartilhados por todos, sem distinção.
Pena que usei o verbo no passado; que bom que
o usei no pretérito imperfeito, convicto de que a nossa realidade universitária
pode resgatar essa condição, embora pareça difícil.
Hoje tudo parece diferente de algumas décadas
passadas. Não pelo estilo do estudante, que alguns poucos resistem em
garanti-lo, mantendo-o, pelas novas gerações que virão à frente. Nem tanto
pelas frases de efeito que se usa cada vez menos, como menos ainda são os
notáveis dos novos tempos. Bem menos também, pelas barbas longas e seus cabelos
que um dia, pareceram rebeldia, e hoje, um estilo ultrapassado com outros
depreciativos adjetivos. O que é diferente, hoje, e a maneira de enxergar esse
ambiente, que não mais universaliza ideias e interesses, estes, cada vez mais
individualizados.
Diferenças também se percebem no modelo de
gestão e no perfil dos gestores. Hoje, bem mais administradores em busca de
resultados por meio de números, gráficos e cifras. Para muitos, o aluno é
somente um cliente, na crescente evolução do ensino superior sob os moldes
capitalistas. A educação vista como um negócio desde a matrícula, passando pela
máquina de tirar cópias de capítulos de livros cada vez mais escassos na
estante do estudante, até chegar ao momento da formatura. Mas deixemos isso
fica para outra discussão, num momento mais propício.
Numa faculdade, hoje, chega-se com a mesma
pressa que se vai embora. Ninguém se conhece a ponto de declinar o nome de meia
dúzia de amigos, nem mesmo contar um pouco de sua história. Termina-se um
semestre, e no outro, logo é esquecido, porém, inevitavelmente, reencontrado na
foto de formatura que irá aparecer na sua linha do tempo, sem marcação alguma
de alguém. Tudo é passageiro, efêmero, sem deixar marcas e lembranças para um
reencontro. É, na verdade, um período que atenderá às necessidades de mercado
para a exclusiva sobrevivência, enxergando em cada um de sua época não um
colega ou amigo, mas sim, a de um concorrente em um mercado que lhe foi
apresentado antecipadamente.
Depois de 25 anos, mantenho boas e inúmeras
amizades da faculdade. Alguns, na mesma estrada profissional, dividindo a mesma
lavoura e as mesmas colheitas. Outros, seguindo outros caminhos, pois vivemos
também de escolhas. Contudo, mesmo abandonando velhos estilos, temos a certeza
de que construímos uma unidade de pensamento - aquele que acreditávamos ser de
uma determinada época - que nos leva à emoção quando vemos uma frase de efeito
ou a imagem de um Che Guevara, ou quem sabe, uma canção do Geraldo Vandré. Na
verdade, são marcas de um passado que jamais devem ser lembradas com o verbo no
pretérito perfeito.
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