quarta-feira, 5 de outubro de 2016

O MODERNO

Fiquei imaginado o que dizer diante dos 84 anos do jornal o Imparcial, além dos parabéns. E a sacada me veio junto com a campanha inteligente da Ideia Propaganda feita para comemorar a data e a impressão dela: “Pra quem é moderno, o tempo é só um detalhe”.

Então...

Moderno é aquele que não precisa do jornal porque vive conectado, mas mesmo assim adora o papel. Moderno não vive sem o tato porque não faz sentido não sentir. Moderno é aquele que ler. E ler muito. Ver muito. Ouve muito. Por isso, não se cala. O moderno diz a que veio e o que quer. Mas antes de falar, pensa.

Moderno é ser bio-seletivo, sem ser mesquinho e limitado porque sabe que as misturas são bem vindas quando funcionam. Moderno não é ser eclético. É ser diversificado. E sacar a diferença, sem dramas e sem frescuras. Moderno se adapta a tudo o que é realmente bom. Simples, assim.

Diante de tanta informação, moderno é aquele que não precisa entender de tudo. Saber bem do que entende é lucro, assim como aprender algo novo é seu luxo. Moderno é ter filtro. E o bom entendedor entende o outro. O moderno sabe que existe também o Lado B, o avesso, o que ninguém diz, as entrelinhas, as aspas, os parênteses...

Moderno não é ser gay, hétero, bi, trans, pan... Moderno é saber que prazer é tão básico quanto respeitar o gozo de cada um.  É reconhecer limites seus e dos outros. E que normal não é tão normal quanto parece; muito menos o anormal quando visto de perto. Ser moderno é se olhar no espelho e se enxergar. E sempre que possível olhar pros lados.  Sempre.

Moderno é também olhar pra trás todas às vezes que for preciso. E ter certeza disso: de que foi preciso.  Depois seguir andando. E ir longe. Bem longe de preconceitos, de mesquinhas bandeiras, de egos inflados, de rótulos, de medíocres receitas e fórmulas vazias.  Ser moderno é entender que a terra não é o centro do universo, nem o homem é o ápice da criação de uma divindade e que não se pode conhecer plenamente sequer a si mesmo.

Ser previsível não é nada moderno.Mudar sim. Mudar de ideia, de opinião, de vida, de sonhos, de certezas, de dúvidas, de amores... Amar mais de uma pessoa até é moderno, mas amar ninguém não.  E não se amar é o cúmulo do retrocesso. Ser moderno é beijar na boca de quem quiser, desde o outro queira. Moderno é trepar de camisinha, mesmo que não se queira. (E isso só é moderno porque é o jeito.) 

Moderno é ter coragem de ter medo, sem ter vergonha.  Não se envergonhar de ser o que se é.  E não se intimidar. Ser moderno é ser crítico, sem mau hálito no pensamento: ser capaz de sustentar idéias antitéticas, em busca de uma síntese própria. Ser moderno é não ter preguiça de pensar.

Ser moderno não quer dizer ser intelectual; ser ignorante muito menos, ou “menas”. Ser inteligente basta. A sabedoria seria a glória de ser moderno.  Aí, o moderno entrega pro tempo, aposta nisso e ganha depois...
Quem é moderno entende que tudo tem prazo de validade. Entende a finitude das coisas. Por isso sabe aproveitar o dia. Moderno é quem se governa. E se desgoverna completamente quando quer, só pra quebrar a rotina.

O moderno não esquece o protetor solar.Sabe também que a roupa é sua segunda pele, daí que se veste bem. Ser moderno não é ser fashion. Mas também tá bem longe de ser cafona. E, sabe que, às vezes, fashion e cafona são a mesma coisa.

Quem é moderno vive o seu tempo. E seu tempo é agora, com todas as suas referências do presente, passado e futuro. É como ter um vinil digitalizado no iPod. É entender que sem Noel Rosa não dá pra ser romântico. Que samba não é pagode. Que forró não é baião. E que ouvido não é pinico.

Não é o silêncio que é moderno, nem a zoada. Uma voz que chega e tem eco, sim. E esse eco não é repetição, reza, ladainha. É evolução. Transformação. Isso é moderno.

Ser moderno não é ter religião. É ter fé. Em si, principalmente. E a fé, assim como a Justiça, ao contrário do que pensam, não é cega. Fé e Justiça só precisam enxergar além. Além da modernidade, inclusive.

Quem rir de si mesmo é moderno, mas quem rir de piada pronta não. E sem senso de humor não dá pra dobrar nem a esquina. Ser moderno não é ser alegre, nem triste. O plano é ser feliz. Ou viver atrás dessa tal felicidade, sem pressa, sem lesação; chorando e rindo; se emocionando, se excitando. 
Ah, ser moderno é ter fôlego. Pra viver!

Fonte: http://www.alexpalhano.com/materia.php?id_materia=2734

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