sexta-feira, 7 de outubro de 2016

LEIAM ESTA CRÔNICA: BASTANTE REFLEXIVA

O aniversário

Minha mãe sempre me dizia: “- filho, encontramos felicidade nas coisas mais simples da vida, por isso seja humilde em todas as circunstâncias e a felicidade será o fruto de tuas ações”. A princípio foi um conselho como outro qualquer de uma mãe. Conselhos que, muitas vezes, podem parecer bobagem ou exagero maternal, porém são significativos para nossa vida.
Certo dia presenciei uma cena que marcou a minha existência não só pelo desfecho que a caracterizou, mas, sobretudo pelos personagens que a compuseram.  Estava em uma padaria simples localizada a dois quarteirões da minha casa tomando o meu café matinal quando uma família de negros em trajes pitorescos invadiu discretamente o local com ares de medo como quem se sente acuado por alguma coisa. Rapidamente em um ato único disfarcei o olhar em outra direção para que não percebessem a minha constante observação. Fiquei olhando agora discretamente os novos personagens tentando escutar as suas vozes a fim de entender o desenrolar dos acontecimentos.
Eram três, a mãe, o pai e a filha. Todos pareciam assustados com o local, afinal era perceptível o medo expresso em seus semblantes. A mãe, mais calma em relação aos demais, transmitia um ar de sofrimento e ternura. Sentimentos que aparentemente faziam parte da sua vida. A filha inocente e angelical não se aquietava um instante. Impaciente e ansiosa puxava as mãos do pai como quem quisesse algo muito importante. Com o tempo pude descobrir a real importância de tal anseio da menina.
Finalmente o pai chegou-se ao balcão do estabelecimento e em voz trêmula e baixa fez um pedido ao atendente ali presente. Não escutei direito a conversa entre ambos, porém logo percebi de que se tratava quando vi a menina apontando ofegantemente para uma finíssima fatia de bolo que se encontrava exposta na vitrine da geladeira.
Ao receber o pratinho com o bolo em suas mãos a criança ficou extasiada  admirando com um olhar meloso aquela fatia de bolo que mais parecia uma folha de papel. Muito depressa, a mãe retirou de sua bolsa três velhinhas coloridas que as havia guardado para a realização do evento e, em seguida, as pôs acima da fatia.
De súbito me veio à mente o entendimento para tal cena. Deduzi que se tratava do aniversário de três anos da menina e como a família não tinha condições financeiras o suficiente para contemplar dignamente tal comemoração levou a filha para comemorar o momento de forma simples, porém simbólica.
Após ensaiarem um ritual parabenizando a aniversariante e guardarem as velas a menina começou a comer o bolo apressadamente e com voracidade. Os detritos que se soltavam da fatia caiam sobre o seu vestido de algodão. Com leveza e paciência a mãe limpou com as mãos a roupa da filha e, do mesmo modo, arrumou o lacinho de fita vermelha que havia colocado em seu cabelo para a ocasião.
Vendo o modo desajeitado e sem muitas regras de etiqueta como que agia a família a maioria dos que estavam na padaria começaram a rir e observar pejorativamente o pobre casal de mulatos. Fiquei profundamente entristecido com o fato e, logo após, os convidei para visitarem a minha casa no dia seguinte. Como combinado chegaram a minha residência faltando poucos minutos para o meio dia. Os recebi atenciosamente e indiquei-lhes que entrassem e sentassem à mesa da sala de visitas, pois havia lhes preparado um almoço especial. Percebi que se assustaram ao ver a mesa repleta de iguarias e guloseimas, afinal nos conhecemos a poucas horas, no entanto, despertei uma intimidade inigualável com a família.
Depois de saciarmos a fome os levei para um cômodo mais reservado da minha casa e revelei a surpresa que estava preparando para a família, especialmente para a filha do casal. Era um recinto amplo e que estava inteiramente decorado com enfeites de aniversário. A mãe ao perceber o presente abraçou-me e agradeceu em soluços vendo a alegria e o contentamento da filha. A criança ficou maravilhada ao ver a mesa com enfeites cor de rosa e cheia de docinhos e bolos. O pai ficou atônito sem saber o que dizer. Enfim, segui os conselhos da minha mãe e fiquei extremamente feliz por contribui para a felicidade de uma família.

Obs: Caros leitores, o texto que acabaram de ler se trata de uma paráfrase da crônica de Fernando Sabino (A Última Crônica). Resolvi fazer esta paráfrase porque me encantei com o enredo da sua crônica, com o desfecho, com a linguagem simples e ao mesmo tempo cativante e pelo ensinamento que ela nos transmite. Vale lembrar que paráfrase não é sinônimo de plágio, pois segundo o site Wikipédia "parafrasear é absorver a ideia principal de um autor e reproduzir a mesma com suas palavras, no entanto, sem fugir da ideia principal", porém o parafraseador tem que atentar para o fato de não transcrever trechos completos da obra original e afirmar qual o recurso linguístico que está utilizando, a obra e o autor parafraseados.


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