domingo, 1 de fevereiro de 2015

GILSINHO E SUA CASINHA DA ÁRVORE


Autor: Carlos Delano Rebouças

Gilsinho é um menino levado, e como qualquer garoto de sua idade, gosta muito de brincar. Quando chegam os finais de semana ou suas férias escolares, logo diz aos seus pais: Vamos para o sítio do vovô... Quero brincar na minha casinha da árvore!

A sua casinha foi construída em madeira, no alto de uma antiga mangueira, que rende muitos frutos, na época de produção, além de uma incomparável sombra, muito atraente para um gostoso descanso depois de um almoço. Há quem diga que sua sombra extrai toda a energia de quem a aproveita, pois debaixo de uma mangueira nada cresce, nada evolui, permanecendo pequeno, nanico, à sombra de sua grandiosidade.

Mas Gilsinho não quer saber disso; ele só quer brincar, brincar, brincar...

Quando chega ao sítio do avô, logo quer subir na árvore e brincar na sua casinha, pequenina como tantas casas no Brasil, que milhares de famílias usam de fato como moradia, acomodando várias pessoas em minúsculos espaços, sem o conforto que Gilsinho tem, com apenas nove anos, na sua casinha de brincadeiras.

Quando está sozinho, na maioria das vezes, já que seus primos mais velhos não querem mais brincar e nem cabem mais na sua casinha da árvore, preferindo se divertir de outras formas mais modernas, impostas pelo mundo, Gilsinho brinca com seus brinquedinhos, conversa com seu imaginário, e esquece que existe um mundo lá em baixo, aliás, lá fora. 

Aproveita o pequeno espaço que tem e espalha tudo, numa absoluta relação com a natureza, fazendo sua imaginação aflorar seus sentimentos, enquanto seus pais e parentes se divertem num churrasco, como sempre, com muita bebida e conversa jogada fora. Acreditam que lá, Gilsinho mesmo sozinho, parece está seguro e feliz.

A casa de Gilsinho é de madeira selecionada, com porta e telhado, aconchegante, mas sem fechadura, além de colorida e preparada com uma pintura especial, que previne a ação de cupins. Aliás, toda a mangueira é protegida contra esses parasitas. Ninguém quer perder uma árvore tão imponente e importante para Gilsinho.  Toda a sua família entende que aquela casinha precisa ser protegida, como o mundo imaginário de Gilsinho, e que seus sonhos não podem ser interrompidos, como de tantas outras crianças da sua idade espalhadas pelo mundo real.

Quem dera se todos nós tivéssemos um lar protegido integralmente, não somente contra os cupins, mas, principalmente, contra os males da sociedade?

Diferentemente da casa de Gilsinho, que as ameaças são parasitas da madeira, as nossas casas não são mais tão protegidas, apesar de cadeados e fechaduras que em nada representam segurança. Nossas casas ficam sujeitas aos mais diferentes riscos e parasitas sociais. Hoje estamos trancafiados, inseguros, correndo riscos, nas mãos dos “cupins” da sociedade, que tentam levar o que construímos, adquirimos com tanta dificuldade, e quando não levam o que temos de mais precioso, que é a nossa vida.

Felizardo é Gilsinho, que tem uma casinha numa árvore, mesmo que seja nos finais de semana ou nas suas férias.  Que pode na sua infância viver o seu mundo de fantasias, bem diferente da realidade nas metrópoles, grandes ou pequenas, não importa, e até mesmo, infelizmente, da zona rural, pois a violência e as desigualdades, não mais escolhem lugar, idade ou condições sociais e econômicas. Apenas agem sem piedade, destruindo vidas e sonhos.

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