Autor: Carlos Delano Rebouças
Cuidado com o cachorro, filhinha!
Alerta a mãe ao ver sua filha se aproximar do cãozinho de sua vizinha, ao
passar na sua calçada, diante de seu portão, entreaberto.
A sua filhinha não pode responder, obviamente,
só tem dois aninhos e não consegue entender e compreender os perigos do mundo,
quem dera expressar-se, ao ponto de tranquilizar sua mãe que não havia perigo
algum. Trata somente de um cãozinho pacato, aparentemente inofensivo, que ao
contrario do homem, só ataca para se defender.
Pena que a garotinha não está sendo
educada dessa forma – descobrindo as verdades do mundo – naturalmente. O adulto
educa conforme foi educado. Forma conforme foi formado. Desenha uma realidade
conforme a realidade vista sobre diferentes visões e opiniões a ela aferidas.
Pobre do Totó que se tornou
perigoso para uma criancinha de dois aninhos!
Mas o Totó não é esse monstro que
se desenha, não. Ele é amável, amigo, mesmo que digam que o cachorro só é o
melhor amigo do homem porque não conhece dinheiro. O cachorro é fiel ao carinho
que lhe é dado; a atenção sempre dedicada; ao alimento e a água conferida, como
responsabilidades mínimas garantidas.
Oh Totó! Quanto alegre és e demonstra ser
com o balançar da pontinha do que resta de seu rabinho, cortado, para
satisfazer os desejos estéticos de seu dono. Como tu és previsível, ao
contrário do homem, que se diz amigo, fiel e leal, e de repente, surpreende,
negativamente. Até preferimos, às vezes, conviver com os bichos, diante de
tantas decepções da humanidade.
Quem sabe o Totó tenha a
oportunidade de ser enxergado como deve ser, ou seja, sem o rótulo de um cão
feroz, perigoso e agressivo. Quem sabe a filhinha possa um dia conhecer melhor
o Totó e tirar de sua mente em formação que cãezinhos só mordem. Quem sabe sua
mãe aprenda que os brutos também amam e que um cãozinho como o Totó de sua
vizinha pode lhe ensinar bem mais que tantos outros animais, que se dizem
civilizados.
O Totó deve está com uma pena tão
grande dessa menininha, e uma ainda maior, de sua mãe, pela sua falta de
sensibilidade.
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