domingo, 17 de novembro de 2013

O Ceará no Processo Civilizatório

O Ceará no Processo Civilizatório

DE 02 DE FEVEREIRO DE 1500 A 13 DE ABRIL DE 1726
Não é verdade que o Brasil foi descoberto a 22 de abril de 1500, no Monte Pascoal, região do Trancoso na Bahia: o fato concreto é que o Navegador espanhol do Navio Nina, Vicente Pinzon, da Frota de Cristóvão Colombo, esteve aqui no Mucuripe muito antes de Cabral partir de Portugal, comandando uma flotilha composta por 4 caravelas. A descoberta não entrou nos registros oficiais em conseqüência das determinações do célebre Tratado de Tordesilhas que demarcava estas Terras como pertencentes a Coroa Portuguesa. E a Espanha não tinha interesses de entregar de bandeja um prato cheio desses como a descoberta de terra abaixo da linha do equador. Para eles era pecado mesmo, e capital!    O descobridor Vicente Pinzon chegou a batizar a Terra Nova com o nome de Santa Maria de la Consolación, a 2 de Fevereiro de 1500, correspondendo aqui ao dia de Nossa Senhora das Candeias; era praxe batizar as terras descobertas com o nome do santo do dia. Pouco depois, uma outra expedição espanhola, comandada por Diogo Lepe deixou nas Terras cearenses, no mesmo local onde esteve o comandante da Nau Nina, marco de sua passagem, de presente, uma grande cruz de madeira. Portanto dois meses antes do Português Pedro Alvares Cabral descortinar o Monte Pascoal, a Ponta Grossa do Mucuripe, atual Castelo Encantado, já estava nos mapas náuticos da coroa espanhola. Em 1534 houve a divisão do Brasil em Capitanias Hereditárias, coube o Ceará ao Português Antônio Cardoso de Barros, que ao contrário dos espanhóis, nunca pôs os pés neste chão sagrado. Em 1539 foi designado Luís Melo da Silva para a tarefa não cumprida por Cardoso de Barros, este veio, ou melhor tentou; naufragou nos mares do Maranhão. No decorrer de todo o século XVI o Ceará esteve entregue as baratas, ou melhor, aos corsários piratas e toda sorte de aventureiros clandestinos que faziam comércio com os índios, o que sobrou de lembrança destes velhos tempos são estes loirinhos que andam por todo o litoral cearense e ninguém sabe de onde vem. Curiosamente quando o Ceará entra oficialmente na História do Brasil encontrava-se Portugal sob o domínio espanhol que riscou do mapa a linha do famoso meridiano de Tordesilhas que de fato nunca ninguém seguiu a risca. Isto se deu no ano da graça de 1603 e o desbravador não era português ou espanhol e sim o açoriano Pero Coelho de Sousa, desbravador audaz que obteve do 8º Governador Geral do Brasil, Diogo de Botelho, o Título para obter privilégios indispensáveis para a ousada Bandeira : Capitão-Mor. Em julho seguiram 65 soldados e 200 índios pela beira Mar, da Paraíba ao Ceará. Só descansaram na embocadura do rio Pirangi, que foi batizado de Siará, onde ficaram todo o resto do ano. Até que em excursão na região de Ibiapaba depararam-se com piratas franceses, era 18 de janeiro de 1604 e o planalto da Ibiapada foi palco da primeira batalha registrada nos anais da nossa história, onde 17 companheiros tombaram mortos; mas a vitória foi nossa, aprisionamos 10 mosqueteiros franceses e fizemos a paz com os mourubixabas: Irapuã, Diabo Grande e Ibaúna . Pero Coelho ganhou fama prestígio e o nome de Punaré. De volta ao acampamento na Barra do Siará. O Capitão-Mor resolve erguer um pequeno Forte que recebeu o nome de São Tiago. E um Arraial iniciou-se na imediações com a denominação de Nova Lisboa. Em 1605 - 1606, Pero Coelho de Sousa registra a primeira seca da história do Nordeste Brasileiro, o terrível flagelo é inclemente e fulmina seus dois filhos pequenos de sede (logo ele que trouxe água de côco para o Ceará), em seguida o filho mais velho de inanição, o que deixa o açoriano prostrado. É aí que entra a figura da Mulher na história do Ceará, sua esposa Tomásia toma a frente da trágica retirada e guia com energia titânica e determinação os sobreviventes. Dos 65 homens brancos e 200 índios que saíram regressaram pouco mais de meia dúzia deles, semi nus e semi mortos chegam ao Forte dos Reis Magos. O velho temido Punaré, dos índios tabajaras, morre três meses depois em Lisboa, caluniado, sem dinheiro sequer para a mortalha. Não acreditaram na história da seca. Em 1607 veio a Companhia de Jesus, os padres Francisco Pinto e Luís Filgueira, já que Pero Coelho não trouxe nenhum sacerdote na sua aniquilada bandeira, mas eles seguiram o mesmo intinerário, à beira mar. Os acompanhavam 60 índios rezando o terço, cantando a ladainha e recitando o ofício de Nossa Senhora. Em pouco tempo aqueles homens que não tinham mulheres nem aceitavam as deles, fizeram amizades com os índios tabajaras, chamavam o padre Pinto de Pai Pina ou Amanaiara "o que faz chover". Fez amizades com grandes caciques como Diabo Grande, Algodão, Cobra Azul, Milho Verde... Os padres fundaram aldeias e missões como: Parangaba, Caucaia, Paupina, Pavuna, e Santo Antônio de Pitaguari... Até que a 11 de Janeiro de 1608, pela manhã, numa pequena capela de madeira e palha de catolé no alto da Serra da Ibiapaba, o ataque dos índios Tocarijus resultou em incêndio e morte de muitos, entre eles o Padre Francisco Pinto no momento que celebrava o santo ofício. Padre Luís Filgueiras escapou protegido pelo filho do TuxauaDiabo Grande, rumou de volta a Barra do Ceará e construiu um povoado com o nome de S. Lourenço, a 10 de Agosto, mais uma vez no dia do santo. Ergueu uma formosa cruz de cedro lavrada. Seguiu em um barco com Jerônimo de Albuquerque, Governador do Rio Grande do Norte a 20 de agosto de 1608. Estes Padres formaram um forte pacto entre os índios e a suas memórias foram reverenciadas por anos a fio. O Ceará ficou abandonado por mais 4 anos, eram tragédias demais. Até que a 20 de janeiro de 1612, dia de São Sebastião, chega o Jovem Martins Soares Moreno, um dos poucos sobreviventes da frustrada Bandeira de Pero Coelho (1603-1606). Com ele a conquista definitiva do Ceará. A principio só 1 padre e seis soldados. Logo construiu um Fortim de madeira no mesmo local dos escombros da fortificação do S. Tiago da sonhada Nova Lisboa do Capitão Açoriano. Só mudou o nome claro: S. Sebastião. Martins Soares Moreno conhecia a língua e interagiu rapidamente com o nativo. Porém com um ano aqui, já teve que partir para expulsar os franceses do Maranhão. Foi para a Terra Timbira com Jerônimo de Albuquerque e só retornou em 1621, passados quase dez anos, para encontrar a aldeota em situação de no mínimo penúria; mas a fez reflorescer com vigor em justamente uma década de labuta e desta vez quem pede socorro é outro Albuquerque, o Matias de Pernanbuco, e não eram franceses, eram holandeses - Guararapes - nunca mais voltou ao Ceará. Regressou a Portugal depois de 45 anos servindo ao Brasil. Capistrano de Abreu escreveu: "ele sintetiza e simboliza toda a história do Ceará" e Álvaro Martins, referindo-se ao eterno enamorado da Virgem dos Lábios de Mel, fez o Poema: 
 
     Martins Soares Moreno,
   De cavalheiresco ardor,
   Por amor à índia formosa,
   Virgem de morena cor
   Fundou a Pátria ditosa
   Da liberdade e do amor.

Tinha que ter uma mulher, era Iracema que se você ler de traz para frente e trocar a colocação de uma letra, encontra a palavra América. Escrito por José de Alencar, o romance símbolo do nativismo e da Brasilidade do nosso povo, assim se refere à musa do guerreiro Branco: "Iracema, a virgem dos lábios de mel, que tinha os cabelos mais negros que a asa da graúna e mais longos que seu talhe de palmeira. O favo da jati não era doce como seu sorriso; nem a baunilha recendia no bosque seu hálito perfumado ... O pé grácil e nu mal roçando, alisava apenas a verde pelúcia que vestia a terra..." (era só o pé nu Alencar?)... "Iracema saiu do banho; o aljôfar da água ainda roreja, como a doce mangaba que corou em manhã de chuva..." É bom parar por aqui Alencar, doce mangaba que corou em manhã de chuva. Virge Maria Depois de tomar posse de Pernambuco, Alagoas, Paraíba e Rio Grande do Norte. A 26 de outubro de 1637, a expedição holandesa comandada por Jorge Gartsman e o Coronel Hendrick Huss chega ao Forte de S. Sebastião e o toma em assalto ligeiro, 126 homens bem armados contra 33, com pouca munição e armas deficientes, foi "canja". Comandava o Forte, o Português Bartolomeu de Brito Freire, que seguiu preso para Recife com vários feridos. Em 1641, os holandeses foram substituídos por Gedion Morris, que trouxe o pintor Franz Post, este fez os primeiros retratos de Fortaleza. Sete anos depois, em 1644, uma insurreição dos índios contra os holandeses aniquilou todos, até o comandante, e destruiu completamente o Forte. Os homens de Maurício de Nassau não encontraram o sal e o âmbar que procuravam..., mas voltaram, desta vez com 300 homens, lotando barcos e iates, e a 3 de abril de 1649, comandados por Matias Beck, chegaram na enseada do Mucuripe e foram se estabelecer à margem do Riacho Marajaitiba, mais tarde Telha e finalmente Pajeú. O riacho estava ao sopé de uma bela colina sombreada de coqueiros plantados pelo Capitão-Mor Pero Coelho. A 10 de Abril, o engenheiro Ricardo Caar iniciou a construção do Forte que levava o nome do então Governador de Pernambuco, de nome impronunciável até hoje: Schoonenborch. Para onde vieram todos os escombros da Vila Velha da Barra do Ceará.
Matias Beck foi o real fundador do povoado que mais tarde passaria a se chamar Fortaleza, ficou aqui até o ano de 1654 e durante todo este tempo procuravam a prata preciosa de Itarema que até hoje ninguém viu... Matias Beck fez a entrega da praça de guerra ao Capitão Álvaro de Azevedo Barreto, herói dos Guararapes. Ele simplesmente mudou o nome do Forte para Nossa Senhora da Assunção e construiu uma pequena ermida entregando-a ao padre Pedro Morais. Os índios, que teimavam continuar na Barra do Ceará, aos poucos vieram para a foz do Pajeú, os de outros arrebaldes o seguiram.
Com a expulsão dos Holandeses, a Capitania do Ceará que estava sob o julgo do Governo do Maranhão, de 1556 a 1621, passou ao domínio pernambucano, e assim permaneceu até 1799.Até que se tornou independente, ou melhor, dependente diretamente de Portugal. A vila de Fortaleza foi instalada a 13 de abril de 1726, com a pompa e solenidade presidida pelo capitão-mor Manuel Francês, por resolução do Conselho Ultramarino de 11 de março de 1723, que criava a Vila de Fortaleza do Ceará Grande.

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