quinta-feira, 26 de julho de 2012

POEMA '' O AÇUDE ''


O AÇUDE
Eron Vaz Mattos

A cambona molhou o lombo da pedra
com água do barril que veio da cacimba.
Adelgaçaram-se os machados
para interromperem a seiva dos vimes
que vieram morar no galpão em forma de jugos!

O couro do pimpão-preto saiu das estacas,
se desfez em conjuntaas, regeiras e anilhos
que desceram dos ganchos atrás do portão!

As tiradeiras, as mariposas e os arados,
Deixaram, na estância, um canto vazio de galpão
para perderem a ferrugem
e calejar, mais ainda, a mão do peão!

Algumas taquaras deixaram a touceira
para imporem respeito, pecaneando a boiada.

O novilho xucro perdeu a liberdade dos campos;
não vai mais descansar tranqüilo
á sombra da pata-de-cava, nas horas de sol a pino.
A mutuca, agora, pica mais forte
e habita a ponta da guiada;
Agora, é calo na nuca, gasta vida forcejando
e sovar conjuntas no tronco da guampa...

O casal de tajãs, que há muito vivia na várzea,
bateu asas de adeus e, tajaneando,
se perdeu, em rodilhas, no azul do céu,
na aflita esperança de um novo parador!

Um matiz iriar anunciava o clarear do dia!
Primeiro o arado, esgurido de mais terra,
abriu sulcos esguis no couro da várzea,
numa ímpar comunhão de força bruta, instinto e raciocínio...
Começava a nascer, na amplitude do pampa,
a estranha estampa da taipa do açude!

A invernada toda, de olhos espichados e orelhas tesas,
povoou o topete das coxilhas olfateando curiosa.

Á noite, enquanto a cuia tranqueava lenta,
espumando causos, em redor do fogo,
a boiada arrastava a colhera, pastando mansa,
á espera do grito, antes do dia,
que haveria de fazer-lhes retesar o garrão...

Muitos dias ! Mais de mês...
Labuta de sol a sol...

As conjuntas sovaram!
O novilho xucro já vem lamber o jugo!
Já não há mais a várzea
para o pisca-pisca dos pirilampos
e o canto sentinela dos tajãs!

Hoje, a cada noite, as luas andejas
vêm brincar com as estrelas
no espelho pampeano das águas do açude!

E, no silêncio das noites calmas,
há um místico guitarrear, do vento
nos bordões do juncal;
talvez harmonizando canções
em memória daqueles que gastaram vida
pra fechar o rodeio das águas
onde muitas vidas vieram morar;
onde se banham as almas saudosas
daqueles que, borcando a mariposa da vida,
deixaram uma taipa larga de lembra

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