Carlos Delano Rebouças
Diferentemente de duas décadas
atrás, o Brasil nunca havia ofertado tantas oportunidades para a aquisição de
uma formação em nível superior, e mesmo de pós-graduação, nas mais variáveis
áreas do conhecimento. Antes, com a exceção das entidades públicas, existiam
pouquíssimas outras na iniciativa privada, e ainda bastante restrita quanto ao número
de cursos e de áreas de formação.
Não demorou a haver uma
verdadeira avalanche de novas entidades de ensino superior, sobretudo, pelo
incentivo do poder público federal dos últimos governos. Novas instituições
surgem a cada dia, oferecendo oportunidades diversas ao mercado, que entende
que se faz necessário uma boa formação para se tornar competitivo, atendendo às
suas exigências conforme a área de atuação.
Da mesma forma que surgiram novas
instituições, oportunidades também chegaram para profissionais de educação, com
alguma licenciatura, ou até mesmo para muitos que nunca pensaram em lecionar,
por exemplo, advogados, engenheiros, médicos jornalistas, arquitetos e tantos
outros de várias áreas de formação, responsáveis pelo repasse de conhecimentos,
pela formação em alto nível de novos profissionais que desejam bem mais que
adquirir conhecimentos, querem, na verdade, conquistar o tão sonhado diploma,
acreditando que se trataria da inevitável abertura para o mercado de trabalho
pelo resto de suas vidas.
Mas nem tudo vem acontecendo como
o esperado, ou seja, nem as portas ficaram escancaradas para todos os diplomados,
muitos frustrados do investimento feito que acreditaram que apenas com a
realização de um curso de nível superior seria suficiente para o seu sucesso
profissional, nem a tarefa de professor parece ser uma experiência maravilhosa
para todos os profissionais. O que de fato se observa em muitos – docentes e
discentes – é o desejo urgente de suprir uma necessidade, seja a de uma
formação que atenda às necessidades do estudante de se encontrar no mercado de
trabalho, que possa lhe garantir uma vida mais tranquila, seja a de complementar
a sua renda como professor em algum horário livre, ou de se aventurar em uma
nova atividade que venha a substituir uma escolha feita que não redundou em
sucesso ou felicidade.
E o que resta a estudantes e
professores, sobretudo aqueles que não estejam tendo suas expectativas
atendidas, sejam elas deslumbramento com o futuro de sucesso profissional,
sejam elas de total identificação com o ofício de professor, que requer bem mais
que uma formação na área, requer conhecimentos e habilidades didáticas que não
se aprende em qualquer curso?
Resta compreender que a educação
deve ser feita com mais empenho e dedicação, a começar por uma mudança radical
na postura das instituições de ensino, passando a ter um compromisso maior firmado
com a qualidade e responsabilidade, desde a sua estruturação – física,
administrativa e pedagógica – continuando com processos de seleção de alunos mais
criteriosos e recrutamento de profissionais, especialmente de professores na
mesma ordem, levando em conta sua formação, identificação com o ofício e
história na educação, para que o objetivo maior – que é uma educação de
qualidade que satisfaça todas as necessidades – seja absolutamente alcançado.
Mesmo sabendo que pode parecer
utópico acreditar que a educação no Brasil – bem mais maquiada que verdadeira,
sem de fato suas estatísticas corresponderem a verdade do que se espera de
resultados que comprovam a qualidade do ensino – vamos vivendo, infelizmente,
de enganações, de “faz de conta”, em um mundo capitalista no qual as
instituições sabem que para sobreviver competitivamente precisam desconsiderar
diversas prerrogativas que garantem a qualidade da educação. Essa é a realidade
desnuda de um país que parece enxergar na educação de qualidade o seu maior
inimigo.
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