Carlos
Delano Rebouças
Qual
é o bom professor para o aluno? Quem recebe aplausos e gritos de “Você é o
cara!” ou “Você é o melhor professor que já tive na vida!”?
Antes
de responder tais indagações, temos que nos atentar para os conceitos que possuímos
sobre educação – sobre a importância que a damos – necessária de ser edificada
desde a base familiar, esta que, inevitável e intimamente, exige outras
necessidades, sobretudo à disciplina, fator que tanto incomoda as pessoas na
sua maioria.
Muito
fácil agradar ao aluno com uma performance circense, artística e conveniente,
fechando os olhos para a verdadeira necessidade de se comprometer com a sua
ideal lapidação para a vida, não somente com vistas a aquisição de conhecimentos,
mas também na formação de um cidadão – na verdadeira acepção da palavra,
conhecedor de seus deveres e direitos, ético, honrado – digno de ser tratado
como tal. Muito fácil ser um “showman” em sala de aula, bem mais preocupado em
promover a sua imagem de “tiozão”, para depois checar nas redes sociais a sua
popularidade, que simplesmente adotar uma postura de menos estrelismo, mais
focada na melhor formação do aluno.
“Mas
é o que resta para o professor”: respondem muitos que vestem essa carapuça. “É
ser criativo, e isso é que o aluno deseja de um professor”: assim dizem outros.
Ah! O aluno adora tudo isso, de verdade, mas será que supre a sua necessidade
de momento para um futuro melhor? Será que surtirá os efeitos plenamente
necessários para um mundo cruel e injusto nas suas cobranças? Viva ao professor
que sabe executar as duas funções com mestria! Parabéns aos alunos e à escola
que tem em seu excelente professor um grande artista! A escola tira o chapéu
para você, polivalente profissional, já que para ela o que vale é o sorriso no
rosto do aluno, não é?
Pena
que a escola não está com essa preocupação, aliás, a única que existe é de
manter-se forte na disputa pelo aluno – aquele que paga e que pode ser fisgado
pelo concorrente – esperando dele somente resultados que possam engrandecer a
sua imagem de mercado. Assim funciona o clientelismo nas escolas privadas do
Brasil.
Certo
tempo, diariamente, costumava passar em frente a uma grande escola de
Fortaleza, renomada, e uma coisa me chamava atenção: via logo na sua entrada,
após as catracas de acesso, um batalhão de coordenadores recepcionando alunos
com abraços, beijinhos e votos de bom-dia. Gostaria muito de saber se fosse
numa escola pública se fariam isso. Certamente que não, pois reside aí a
diferença de tratamento que muitas vezes se estende à sala de aula com o
professor que lá recebe o aluno diariamente.
O
professor de uma escola dessas sabe que muito mais que repassar conhecimentos
ao aluno e contribuir para a sua formação humana e social, precisa ser a
extensão da escola em sala de aula, agradando-o de todas as formas, para
receber tapinhas nas costas nos corredores e quem sabe, no dia de sua
avaliação, ser bem pontuado e ter seu emprego garantido. Ao final, tudo fica
uma beleza, ou seja, escola e professor bem conceituados na opinião mal
edificada do aluno sobre os verdadeiros conceitos de educação de qualidade.
E
essa roda viva da educação no Brasil permanece e continua a girar diante dos
interesses divergentes. Infelizmente temos que nos acostumar com isso, pois não
vemos a mínima possibilidade de mudanças. A escola continuará enxergando o
aluno como a sua maior fonte de riqueza; o professor continuará sendo o maior
artista circense da sala; e o mundo também continuará sendo esse imenso palco
das desilusões, resultantes de uma educação mal desenvolvida, embora não pareça
para muitos, pois o que mais importa é o título que carrega.
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